segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O Céu Está Cansado


Desde que o mundo é fundo
E desde que eu me entendo por mente
É assim:
Nem tudo que sai do lugar deixa o espaço vago

Quanto mais carros se juntam
Na composição dessa coreografia estranha
E quanto mais gritos se arranjam
Nesse coral sem cor, suburbano
Mais lugares permanecem ali
Apenas assistindo

Enquanto o céu ameaça suar
Respiramos esperanças mofadas pela idade
Contemplamos lembranças passeando a nossa frente
Empurramos tudo, como se não nos faltasse a coluna
Tudo permanece mudo, e não há coisa alguma
Que faça tudo falar

Mas, desde que se anda pra gente
E desde sempre
Nada nunca esteve longe do presente
Os lugares permanecem ali
Rindo disto também

Fortuna


Eu sou uma gente estranha demais
Para não ser cotidiana
E por mais esforço que eu faça
Eu ainda não consigo gostar de nada
Que não dê formiga

E mesmo tudo que há de mais doce e morto
No meu dia a dia
Anda me roubando poesia desde que eu sonho
Em ser gente
E se existe uma categoria de tropeços
Que merece toda minha reza e adoração
É esta:
A ala dos ladrões de poesia

Todas as noites eu faço, por eles,
Um silêncio pequenininho
E volto a respirar
Com a paz de quem dorme e acorda
Com poucas certezas bonitas
E com muitas memórias escritas

Em todos os bares eu peço a mesma dose de saída;
Eu nunca quero ficar.
E não me falta a paz de quem dorme e acorda
Com algumas invejas na bolsa
E com poucas tragédias
Não passíveis de riso

Sorrir é Coisa Séria


E depois de tudo isso
Eu ainda não me fiz entender
Porque não há nada mais sério que um sorriso
E nem mesmo a tristeza merece
Ser tratada com tanta seriedade

De todas as vezes
Que eu tentei explicar as coisas com levas de palavras
Eu só me arrependo de todas
Mais ou menos todas…
E a minha maior fraqueza agora é essa:
Tentar usar palavras
Minhas fraquezas costumam ser mais fortes do que eu
Por mérito delas

E toda vez é assim:
Falo do universo inteiro
Como se ele fosse um pé de qualquer coisa
Totalmente à merce do meu olhar
E ando encontrando gente corajosa o suficiente
Para mentir e me dizer que entendeu
Coisas que eu nem expliquei

Sorrir é coisa séria
E depois de ser minha própria droga
Eu ando querendo ser comum
E sou

Quando a Água é Mar



Hoje, quando tudo pareceu nos conformes
Eu notei que algo estava errado 
Algo como... Tudo, talvez 
Ou uma parte de tudo, tanto faz 
Não me lembro de ter presenciado tanta pressa 
Em desconformar as coisas
Foi rápido. 
Desacrescentei algumas cartas do meu baralho 
Desamarelei alguns sorrisos e vinganças 
Me desesforcei para poder chegar onde quis 
Me ajoelhei para manter de pé o meu nariz 
Fiz tudo sozinho, 
Apesar da larga margem de pessoas onde quebro minhas ondas. 
Porque quando a água sabe que é mar
Podem lhe tirar o sal, pode o sol ir se deitar noutro lugar 
Pode sua margem recuar ou avançar 
Pode até a vida cessar de nadar
Quando a água sabe que é mar 
Ela se faz sozinha de matéria
E colhe sua crença na intuição 
E na consciência
Sua pretensão, sua proteção 

E eu nunca vi um mar infeliz 
Por mais de uma vida