segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Traduzido pra Mesma Lingua


Vou tentar fazer um verso
Virar um lenço bem seco
Pronto para ser umedecido
E, se precisar, encharcado

Ele tenta secar essa angústia molhada
Que insiste em lhe lavar a fronte
Mas você joga-o num mundaréu de água
Espera que um suporte absorver o outro

Assim, quem sabe o mar não seca?
E faz aquela embarcação tocar o solo
E ficar, ao menos, parada
Sem mar nem menos, seja alcançável

Porque a falta de esperança
Impede o corpo de boiar
Por estar cansado da promessa
De que a água vai aguentar

No solo seco você sabe onde pisa
E não periga se afogar
Talvez tropece ou escorregue, mas
Tem a certeza de manter o pulmão seco

Que de molhado já basta seu rosto
Onde mora seu impasse eterno
Posso interferir no ancorar de outrem
Sem desrespeitar seu rumo próprio?

Fosse ao menos um barco a vela
Onde o vento, que é amigo
Poderia uivar a favor da meia volta
Ou levar seu corpo na mesma direção

Se eu lhe entregar vários lenços
A fim de que eles virem uma corda forte
Que se possa jogar para te laçar a força
Ou para te salvar da forca

Ainda assim te faltaria o marinheiro
Que foi embora sem lhe ensinar a dar nó
Só sei dar laço, desses que soltam fácil
Porque a beleza assim o regrou

E, me lembrando de histórias passadas
Vi o mar ser aberto com cajado
Vi nele peixes se multiplicando
O vi endurecer e ser atravessado a pé

E só me resta te recordar
Que a mesma força que ordenou
Que o mar se fizesse submisso
É aquela que guia seu corpo

Seu corpo, em sua maioria, é água
É regido pelo mesmo maestro do mar
Que me diz que ainda nessa sinfonia
N´alguma nota os dois vão se encontrar

Essa vida é um desacerto
Promessas para ter sonho realizado
E rezas suplicam para que o passado
Nem em sonho atravesse o travesseiro

domingo, 25 de dezembro de 2011

Pra Você Ler


Queria que sua existência me bastasse
Pra me satisfazer só em te observar
Queria que seu braço me apertasse
Pra me impedir, de novo, de me afastar

Eu tenho que dar um jeito de sumir
Com essas pistas que me tornam suspeita
Daqui a pouco já vai dar pra ouvir
O quanto o seu simples mover me deleita

Passa pra lá e vai rir com alguém
Quanto mais te vigio, mais te perco
Passa pra cá, traz o seu blém blém
Me deixa cantar e abre esse cerco

Não pára de falar, deixa sair da boca
Que eu acho que a palavra até envaidece
Sendo entoada por voz levemente rouca
Tenho até dúvidas se meu ouvido merece

Me deixa durmir, que já é amanhã
Sai da minha cabeça! Ou entra por essa porta…
Ou pára de me servir como casaco de lã
Ou me abriga de uma vez ou me aborta

Não, não ri tão fácil pra mim
Cê não vê que isso só me piora?
Não dou conta desse riso tão mirim
Que vira um ímã e me demora

E nada me livra da expectativa
Desse meu sentir ser possível
Desse seu sorrir que me cativa
E nada me livra do imprevisível

Qual será a ferramenta que desconstrói
A beleza que envolve esse desejo
E força o sujeito a virar príncipe e herói
Chega a brotar candura até no seu bocejo

De repente o motivo da recorrência
De tanto sentimento desconfiado
É que o poeta se usa da carência
Pra ficar ainda mais agoniado

E fazer tudo virar verso bonito
Torcer que alguém, entre vírgula, se veja
Em algum ponto desse perene conflito
Entre o que se supõe e o que almeja

Me Tacaram Betacaroteno



Senhora Cenoura, quero dizer-te
O quanto me alegras o almoço
É lindo quando nadas no azeite
Não és amarga e nem tens caroço

Eu te cozinho e te sinto adocicar
E fico ansiosamente curiosa
Para descobrir no meu paladar
Se tens o mesmo gosto da prosa

Queria saber se seu ciclo erra
Por ser o contrário dessa humanidade
E começar lá debaixo da terra
Onde jaz os que me dão saudade

Que te aconteceria na vida
Se te deixássemos enterrada?
Cê se sentiria agredecida
Por não ter virado salada?

Eu só sei pisar a terra, mas você
Com esse seu nascer subterrâneo
Já deve ter conseguido perceber
Onde se pode ser mais espontâneo

Acho que já fomos vizinhos lá no Éden
Onde o homem brotou do pó da terra
E pelo nível de pecado é que eles medem
Se a porta do céu abre fácil, ou emperra

Ah, ando preferindo virar salada
Sem precisar pensar no sentido da vida
Não importa se cozida, ou crua e ralada
Teria ao menos garantia de ser bem comida

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Ideais

 

Oh só pra essa petulante mania
Que esse povo tem de insistir
Em recitar música e cantar poesia
Fazendo até moço brabo, sorrir

Chega um assim meio acanhado
Desses que te olha assim de baixo
E caminha mei desconsertado
Rio Brandão que aparenta riacho

De repente, cê já tá hipnotizado
Respiração no compasso dos versos
E o resto fica tudo embassado
Leia aí só mais uma, eu te peço!

A coisa toda já tomou conta dela
Não sabe se recita, se canta, se chora
Pra ela decidir basta a gente dar trela
Elisa é lisa e se encaracola sarau afora

E aquele ali ainda diz que é de mar
A rima é doce, lhe dê um Sol pra ver
Edimar de mansinho toma seu lugar
Faz música assim, como quem nina bebê

No intervalo duma canção bonita
Me chega esse cabra arretado
Wesley com artigos, és lei bendita
Queria aprender seu palavreado

Ai, que o peito parece que num guenta
Nunca vi tanta riqueza ajuntada
Vem minha vó, traga uma água benta
E tome tento com essa rima virgulada

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Carvalho


Para Elisa Carvalho e seus ramos, flores, frutos, raízes, vida...


Já existia bem antes de você
Dizem que data mais de mil anos
Natureza perpétua, agora cê vê
Esse nome tá longe de ser engano

A gente pensa que é só um arvoredo
Mas a cada novo galho que contamos
Dá logo pra ver que ali tem segredo
É um só nome, para vários ramos

E no final de cada um, tem fruto
E nenhum deles ousa apodrecer
Só fazem alimentar o canto astuto
Dos passaros que vêm amanhecer

Guarda consigo o registro precioso
De chuvas e tempestades passadas
E a cada pé d´água doloroso
Enraíza ainda mais suas jornadas

Com o temporal, seu tronco revigora
E não há um pingo que sinta coragem
De ousar derrubar essa história
Desde o solo até sua folhagem

E mesmo com esse assédio natural
Que a vida insiste em querer forçar
Ela não se revolta ou deseja o mal
Se o vento balança, ela põe-se a dançar

Quer ser morada para toda vida
Que a rodeia com simplesa e canto
Ternura que chega a ser desmedida
Com uma força de causar espanto

Vê poesia em grade na janela
E registra tudo em fotografia
Já devem ter avisado a ela
Que essa árvore dá poesia

Pára, Amélia...


Deixa nosso amor no fogo baixo
Que é pra gente ficar despreocupado
Tem perigo de queimar não, amor
Da pra saber pelo cheiro

Varre nossas brigas pro quintal, dengo
Deixa que o vento leva pra longe
Essa sujeira que tem hora que gruda
Vem cá, já já ele sopra essa poeira

E chega dessa lavação de roupa suja
Oh, chega um dia que a roupa gasta
Compra lá aquele amaciante
E deixa isso aí só de molho

E agora cismou de tirar teia de aranha
Naqueles assuntos, daquela gaveta
Tão lá guardados, deixa lá, amor
Deixa que a aranha cuida deles pra nós

Larga do jeito que tá
Que o que não tem remédio
Remediado está
Desliga o aspirador

Chega de arrumação, meu bem
Vamos deitar e ver televisão
Finge um pouquinho que tudo tá bem
Abraça eu, que eu não sou de mais ninguém

Ele Faria


O poeta é mesmo um teimoso
Leva na ponta do lápis o coração
E requer de um certo tempo ocioso
Só pra versar seu não-ganha-pão

Ah! Queria mesmo é viver da emoção
Que conto e declamo em tom de paciência
De repente vira até uma canção
Um concerto que dispensa regência

Mas enquanto a arte for um semi-nada
Pra essa gente que (não) nos representa
Só me resta a carteira assinada
Que só com o pão me sustenta

Preciso ter a alma nutrida
O corpo aceita qualquer carboidrato
Poema é refeição bem servida
Só queria que bastasse esse prato

“Estude, seja alguém na vida!”
“Arruma um serviço fichado!”
A simpleza anda meio esquecida
Muitos tentam me deixar calado

Eu chego até a achar graça
Desses senhores tão estudados
Que só querem dar liga na massa
Prefiro os analfabetos abestados

Bença, vó

Dona Imaculada

Nunca tive brinquedo de presente
Só passava, varria e limpava
Reclamasse, chinelada na gente
Num sabia se lavava ou chorava

Casei foi pra ter minha liberdade
Mal conhecia o tal do marido
Sorte, ele era todo bondade
Católico, alegre, não muito cumprido

Só me veio mesmo filha mulher
Criei todas bem na linha dura
Ninguém tratou delas feito qualquer
E nunca que faltou ternura

Só agora percebi que liberdade
É ser viúva numa casa vazia
Com remédio pra aumentar idade
E no domingo, três Ave Maria

Por ter medo de durmir sozinha
É que ficar velha é uma merda
Bem pior até que erva daninha
E a tal genética que a gente herda

Abre as portera da gordura
Antes eu era um esqueleto
Esses anos roubam formosura
Essa vida é mesmo um desacerto

Y da Silva



- Oi moça, boa tarde
Desculpa meu bucado de pressa
Meu caso é mesmo de fazer alarde
O dotô atende uma hora dessa?

- Não se chega assim de surpresa
Num balcão de atendimento
Não posso nem lhe dar certeza
Vou ver como tá o andamento...

Volte amanhã depois do almoço
Que lhe arrumo um horário apertado
Mas não repita isso, viu moço
Não me chegue aqui tão apressado!

- Oi seu médico, boa tarde
E obrigado por ser tão gentil
O peito me dói, e pra dizer a verdade
Multiplique isso por bem mais de mil

- Boa tarde, seu moço apressado
Venha cá que eu afiro a pressão
Esse pé parece um pouco inchado
Pelo visto tá em dia o coração

- Ô dotô, num me diga isso não
Que esse caso é grave, periga dar morte
Diga a verdade, enquanto eu faço oração
Me diz, quanto eu vivo caso tenha sorte?

- Rapaz, seu coração bombeia bem direito
As vistas e a coluna tão em ordem também
Diga, que mais sente além de dor no peito?
Andaste mesmo apanhando de alguém?

- De um só não, dotô
Pelo menos uns milhares vezes mil
Me escuta direito pufavô
E nem vem com a tal bezetacil

Essa é uma dor bem diferente
É de toda gente nascida comigo
Acho que minha geração tá doente
As vista só quer enxergar o umbigo

- Ô moço, então é esse o enfisema?
Primeiro pega um papel e uma caneta
E escreva assim em forma de poema
Que não vai nem precisar de receita

Saindo daqui corra na drogaria
E compre absolutamente nada
Não há veneno que inverteria
Caso de geração envenenada

Essa receita né pra remédio não
Dois ovos, leite, açucar, trigo
Mexa tudo, unte a fôrma com a mão
Ache alguém pra tomar café contigo

Corra ao laboratório e peça
Um exame de pulsação
Abrace a atendente e ela que meça
Se a batida sobe ao se aproximar coração

Tome a última dose de cura do dia
A todo que passar, dê compaixão
Dê, no mínimo, uma alegria
Pra dona rica e pro catador de papelão

Além da esmola, dê também a mão
Mostre interesse, além de só escutar
O consumismo é uma contramão
É em pessoas que devemos apegar

Volte a agendar consulta
Se achar que há necessidade
Espero que mude a conduta
De urgenciar tanta agilidade

- Ô dotô, sô me desculpe
Escrever a mão dá até um pavor
Vou em casa pegar o notebook
O senhor repete se eu pedir por favor?

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Certeza





Para Bruno, meu irmão, meu poeta, meu nenho, meu cúmplice 


Na teimosia de querer aproveitar
O silencio da madrugada calma
Fiz até prece pra procurar
Uma coisa que sustente a alma

Queria entender a razão estranha
Do cantar do galo no meio da noite
Mas que raios será que ele ganha
A essa hora com todo esse açoite?

E o gato que foge de casa
E vai lá pro asfalto miar
Se esse bicho nascesse com asa
Não demoraria a se endeusar

Por aqui cada um tem um jeito
Diferente de se enganar
Que será que leva o sujeito
A demorar tanto pra deitar?

Nessas coisas você já pensou
Madrugadas-luz na minha frente
Quantas vezes esse galo cantou
Enquanto você rangia a mente?

Uma caneca sob medida
Pra abrigar a santa cafeína
E essa guimba morre decidida
A deixar pra trás a nicotina

Essas coisas de vício carregam
Uma simplicidade em rimar
Nesse trago que um dia te negam
Ao dizer que querem te salvar

Dá saudade é daquele ninar
Escutar mesmo sem entender
Que se passa com a rainha do lar
Que não tem gostado de viver?

Ele aprende a decorar os livros
É isso Deus, que é dialogar?
E será que essa ovelha se livra
Desse vício de se alinhar?

Ela não lembra muito da escola
Mas aprendeu matéria importante
Quem só decora o livro se enrola
Na hora de amar seu semelhante

Entre briga e arrebatamento
Entorpecemo-nos de confusão
Registro o agradecimento
Por ter o braço de meu irmão

Irmão é casa de árvore no quintal
Pronde a gente corre e encontra abrigo
Quando quer nada além do normal
Só alguém que respire contigo

É beira da praia em baixa temporada
Onde a gente caminha tranquilo
O mar chama a areia de namorada
Mas a onda mantem seu sigilo

Saber que você tá por perto
E sempre poder pegar sua mão
Entender que nem sempre tá certo
Quem se vale apenas da razão

Poder exercer a breguice
De achar paz nesse seu dormir
E eu acho que eu nunca te disse
Mas você até costuma sorrir

Não preocupa com tua incerteza
Essa dúvida elogia a reflexão
Dizem até que o certo é a beleza
Que mora la dentro da televisão

Família é embriaguez maquiada
Uma coca-cola depois da cachaça
Pode tá com a cabeça arriada
Mas passeia de pé pela praça

E é bom que nem coca e cachaça
Deve ser por isso que eu insisto
Em brigar com qualquer ameaça
Que atrapalhe seu sono esquisito

Tem quatro lugares no sofá
Normalmente ficam três vazios
Quatro pessoas a se indagar
Pra que uma casa com tantos fios?

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Atmosfera





A amiga que te cobra um porre
O amigo que te cobra ouvido
O tempo que te apressa, corre!
Já tá todo mundo envolvido

O pai te cobra um diploma
O vô cobra um bom mocismo
E você mora numa redoma
Acorda, hora do catecismo!

O padre te cobra uma oferta
A Igreja vigia a conduta
Os fiéis ficam de boca aberta
Se você xingar “filho da puta”

A puta te cobra o programa
A doença te cobra remédio
A droga te cobra por grama
Por alívio e depois, o tédio

A tela te mostra uma oferta
A novela doutrina a conduta
Programação na hora certa
Espectador da tele-disputa

A mãe te cobra magreza
A vó te cobra sustancia
O irmão acha que tá beleza
A genética é sua herança

O corpo cobra movimento
O espírito tenta fugir
A mente quer ter sentimento
Mas só sente a cabeça zunir

Te cobram a vida e a cura
Cada passo, salto ou tropeço
E lá na garganta, secura
Não sei se cura eu mereço

Deus te cobra um momento
Livre de qualquer moeda
Pra repousar seu tormento
Enquanto te livra da queda

Mas se o momento é tempo
Eu não tenho pra dar nem vender
Pai nosso, mas que mal intento
Filhos que nascem só pra morrer

Ao SAC do céu




Seria a liberdade uma moça jovem
Que não saiu da cabeça do filósofo?
Será que a liberdade precisa
Sair da cabeça para ser?

Será que a liberdade permite
Que se lhe toquem os seios fartos?
Ou seria a liberdade uma puritana
Que também caiu em contradição?

Será que é preciso permissão
Para lhe cheirar os cabelos?
Ou seria muita petulancia?
Ou seria muita confiança?

Será que eu posso algemá-la
Apertá-la, amassá-la e por na mala?
Apartá-la, amar sala, o mar sal
Será que ela entende de devaneio?

Será que posso achar que ela é minha
Só por ser inquilinamente moradora
Da cobertura do meu corpo
Com varanda e vista para o amar?

Será que ela me paga e eu não vejo
Ou será que me deve alguns meses?
Seria ela quem grita e esperneia lá em cima
Toda véspera de entrevista de emprego?

É ela que pisa no acelerador
Toda vez que é preciso rebeldia?
Será que a liberdade precisa
De umas aulas de direção?

Seria ela a professora
De toda a movimentação?
E, sem mesmo sair do lugar
Faria o moço levantar do sofá?

Será que é mesmo dela
Todo esse aparato sedutor?
Ou teria a liberdade se rendido
Ao bisturi ou ao silicone?

Será que ela começa e termina
Ou será que a liberdade é Deus?
Mas, será que Deus pôs silicone?
Tomara que a blasfemia não ouça

domingo, 13 de novembro de 2011

Empecilhos Empanados



Hoje eu ia fazer um poema
E esqueci
Ali entre a inspiração e o teclado
Eu perdi a atenção

Eu ia continuar um poema
Depois que saísse do banho
E ali entre o shampoo e a esponja
Lavei junto a memória

Mas esfriei a cabeça
E parece que alguém lá em cima
Percebendo minha peleja
Me mandou chuva, muita chuva

Agora sim, respirando melhor
Vou disparar a escrever
Gente, que escuro é esse?
Será que não paguei a conta?

E algo entre a chuva e o poste
Me apagou a vontade
Ou me acendeu a preguiça
Será que eu passei da conta?

O poste, o teclado, a chuva
A luz, a memória, o shampoo
Minha rotina tá me roubando poesia
Deve ser porque deixei na janela

Igual aquele bolo do desenho
Que fica ali pra esfriar
E vem o bicho e engole tudo
E se tá sem preço, é de graça

Eu perdi uma poesia
Enquanto me preparava pra ela
Me enfeitava e perfumava
Achando que gostasse da vaidade

Hoje eu ia escrever um poema
Mas será que o dicionário deixa
A gente ter certeza da dúvida
E duvidar da certeza?

domingo, 16 de outubro de 2011

Auto Retrato



Eu to aqui na margem
Nem sei quem é que tá no centro
As vezes parece miragem
Quando alguem oferece alimento

Tá todo mundo olhando pra lá
Querem saber o que tanto discutem
Tá todo mundo querendo falar
Eu só quero que me escutem

E quanto mais eu tento andar pra frente
Mais pra trás a onda me leva pelo braço
Aqui na margem ta cheio de gente
E eles la no meio, cheios de espaço

E aquele ali ainda diz que é crente
Será que Deus é que te mandou
Dar os dez por cento para a Igreja
Fingindo ser para a criança carente?

Aqui na margem a gente percebeu
Nossa voz chega lá com clareza
Mas é que o moço ensurdeceu
Só quer escutar a realeza

Mas aí teve um irmão camarada
Que percebeu a beleza daqui da beira
Me deu a mão, nem precisou de espada
E lá no meio causou tremedeira

A minha conversa agora eu já sei
Que é com quem tá aqui perto
Pro inferno esse centro e esse rei
Deixa ele achar que tá certo

Não é aí que eu quero chegar
Pra fazer o que eu quero, nem precisa lugar
Vem cá, chega aqui fora
Quem é que tá sem voz agora?

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

"Não habita. Se habitua."




Muito me orgulha falar do ser humano como uma só raça. E me orgulha mais ainda pensar que somos todos irmãos.
Essa semana, no dia das crianças, fui à um abrigo de menores abandonados passar uma tarde com eles, levar doações e fazer brincadeiras. O choque é muito grande, te faz tremer por dentro e você tira forças não sei de onde para não chorar ali na frente daqueles pequenos que vêem em você a chance de umas horas de felicidade. Eu sei que isso é óbvio, mas preciso falar que é destruidor você ver tamanho descaso com esses meninos, e como esses lugares parecem ser muito mais sujos de hipocrisia do que a antiga casa deles, a rua.
A vida de cada um deles me impressionou muito, e não poderia ser diferente. Todos parecem já ter sofrido em dez anos muito mais do que sofreram meus pais, em cinquenta. E eles não precisam nem abrir a boca pra gente perceber isso. Crianças com o rosto revestido por uma expressão constante de ódio e revolta, e de um ou outro sorriso que, insistentemente, cisma em aparecer quando eles captam uma bola ou uma corda, uma boneca ou um simples carrinho… Um olho que parece enxergar dentro de você, e te faz sentir vergonha por tudo que você classifica como um “sério problema” na sua vida. Um olho que te faz sentir mais vergonha ainda de ter tido tempo para tanta coisa pequena e ter esperado vinte e dois anos pra ir lá e olhar dentro dele.
Um dos casos era de um menino, recém chegado na casa, que tinha marcas de queimado pelo corpo, causados pela própria mãe, que usava cigarros e colher quente para castigar o garoto. Ele está lá por medida de proteção, e claramente não entende nada do que acontece com ele e seus cinco aninhos de vida. Não entende porquê aquela casa passou a ser sua protetora, papel que deveria ser de sua mãe. Ele mal fala e não interage muito… Afinal, quando a barriga da qual você saiu te queima com ponta de cigarros, imagine que mal pode lhe fazer um desconhecido?
A mesma raça que me dá orgulho, me dá vergonha e pena. Essa raça, que é o único animal racional, perde a razão dia após dia. E a criança, que de nada tem culpa, é quem fica com as marcas. E, como encontrar o culpado, numa história onde só temos vítimas? Essa mãe, queiramos admitir ou não, nada mais é do que uma vítima. Mas, quem eu achei que fosse o culpado, diz agora que essa criança está sob sua “proteção”.
O caso é que trata-se de uma casa onde todos sabem o caminho para fugir dali, dos mais novinhos até os mais velhos. Quando chegamos, fomos informados de que tinham ali dezenove crianças, porque duas haviam fugido recentemente. E, quando perguntei o que acontecia com os que fugiam, escutei que “é assim mesmo, eles fogem, dali a pouco se metem em encrenca e acabam voltando”. Muito triste escutar um “é assim mesmo” conformista da diretora da instituição, que deveria ter sua indignação renovada a cada dia, e transformada em alguma ação. Eu até entendo o cansaço, mas não o conformismo.
Somos todos irmãos, mas destruímos até mesmo a nossa maior herança, que é a Terra. Fico triste de ver como se chama o outro de “irmão” por pura gíria, sem nem pensar na verdade que esse chamar carrega. A nossa felicidade depende diretamente da felicidade do nosso irmão mas, curiosamente, ao invés de facilitar, nós atrapalhamos a vida de quem quer que seja, só para melhorar a nossa, sem enxergar que o bem ao próximo nada mais é do que nosso próximo bem.
Não quero perder minha indignação diante dessa e outras injustiças, pelo contrário, quero que ela se multiplique a cada dia e que atinja vocês e a nós todos, e espero viver suficiente para ver um mundo, ou pelo menos uma cidade em que a indignação move muito mais as pessoas do que o entretenimento para seu bel prazer.
Esse menino não pôde contar com seus pais, e não pode contar com o país. Mas, se ele puder contar com ao menos uma pessoa que seja, que o visite ao menos uma vez ao mês e lhe explique que nas marcas que estão em seu corpinho é depositada a esperança e a confiança de mudança, e que o bem existe e está ao lado dele, não vai ter colher quente que o faça parar de lutar para que mais nenhuma criança passe pelo que ele passou.
Acredite, o poder que essa mãe teve de traumatizar essa criança é infinitamente menor do que o poder que você tem de transformar esse trauma em renovação, com um simples mas sincero abraço. 

domingo, 18 de setembro de 2011

Nem Metade


Um dia eu me canso
De tanto acordar cansado
Qualquer dia sei lá, me lanço
E nem vou lembrar do calçado

Saio caminhando eu e meu chinelo
E cantando só pra lembrar Vandré
Tem uma hora que a luta te cansa
E quem luta cansado, lembrado é

Vem cá olhar na janela
Mas a janela verdadeira
Não aquela televisionada
Chama lá a benzedeira

Que chinelo velho acaba dando calo
Tem sempre uma planta milagrosa
Tem sempre uma reza sem erro
Pra qualquer cansaço ou desmazelo

Chama lá a moça bonita
Que a beleza anima a força da gente
E nem precisa ter nada por dentro
Que a beleza basta só pra olhar

E haja dente na boca, pra sorrir
Brilho no olho, pra convencer
Garganta forte, pra ser escutado
E perna boa, pra umas mil léguas

E quem acorda cansado
É pra que uns outros acordem dispostos
Quem luta por justiça
É pra que uns outros assistam TV

E a mudança, quando vem
Não escolhe, vem pra todos
Mas mal sabem os dispostos
Que os cansados já mudaram faz tempo

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Felicidade



Hoje eu acordei muito bem. Tomei um café da manhã saudável, respondi alguns e-mails, vi minhas notificações no Facebook, troquei de roupa e fui correr - não vivo sem serotonina.
No meu mp3 só músicas que me alegram, ou que me fazem pensar, que aí eu nem vejo o tempo passar e quando dou por mim já to voltando pra casa.
Tudo muito bem, tudo muito bom, e passando pela ponte, na volta, eu vi um senhor de aparentemente 75 anos carregando um desses carrinhos enormes, cheios de papelão e demais recicláveis. O sol tava escaldante, e ele ia em passinhos homeopáticos, empurrando o carrinho com o resto de força de que ainda dispõe.
Aí eu parei pra pensar, mais uma vez, sobre a felicidade.
Eu sou otimista, mas pra mim felicidade, hoje, não existe se você tem o mínimo de compaixão. Ou você é capaz de ser feliz sabendo que enquanto você se diverte na internet, um senhor que já viveu o triplo que você, e que deveria estar curtindo a vida de uma maneira mais digna, está debaixo do sol empurrando quilos de papelão pra garantir um almoço? Eu não sou.
Não consigo dizer que eu sou feliz. Não que eu seja triste, mas esse estado durável de plenitude que dizem que é a “felicidade”, não suporta conviver com todas as injustiças que nos rodeam.
Egoístas todos somos, nem vou aprofundar nesse assunto. E, quando se trata de felicidade, tendemos a ser descaradamente egoístas. Só porque o sujeito tem um bom emprego, uma boa base familiar, um bom casamento, bens materiais etc, ele cisma em dizer que é feliz. Aí ele pega seu carrão e sai de casa cedo pra trabalhar, dá um beijo na esposa, deixa os filhos lindos e saudáveis na escola, e segue pra mais um dia de hipocrisia humanitária. Não to dizendo que ter isso tudo acima é errado, pelo contrário. Mas só porque você tem motivos pra agradecer a Deus por tudo que tem, não significa que você é feliz.
Não vejo felicidade num mundo em que filhos do mesmo Deus que você e eu, passam fome, não têm onde morar, levam tapa na cara por fumar maconha, perdem a orelha por abraçar o filho, levam chumbo por não serem heterossexuais, e têm que trabalhar até morrer porque a previdência social é uma merda.
Olhar pro lado te faz perceber que, contrariando o clichê, você só consegue ser feliz sozinho. 

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

De Manhã



Se eu fosse razoável
Eu teria de ser um só
E por mais que eu faça conta
Razão é coisa rara por aqui

Se eu fosse um só
Eu não seria nem metade do que sou
E até parece faz de conta
É raro acreditarem em mim

Se eu fosse só metade
Não daria conta de mim
E por mais que eu faça conta
Nenhum resultado satisfaz

Cansei de coisa certa
Quero tudo desmedido
E poder ser incontável
E poder crer no invisível

E poder rir do comum
E poder querer ser assim
E poder ter certeza
Até do que provam o contrário

Rua



Um moço andando na corda
Um outro tocando berimbau
A banda que já passou da hora
E o tambor ensurdecendo o mau

E mesmo antes de você me conhecer
Eu já tinha até escolhido o vestido
Já imaginava todos seus defeitos
E já sabia que não seriam suficientes

E o que me interessa niguém sabe
E não sou eu quem vou contar
É só sentar aqui do lado
E esperar pra ver no que vai dar

Não pense que foi por acaso
Mas escolha também não tinha
É que quando a gente percebe
A gente já não anda mais na linha

E tá na hora de voltar pra casa
E tá na hora de falar tchau
E a minha hora é que não entende
Pra entender de hora, demora…

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Poema Sem Sentido





Com Gabriel Carelli



Tentei pensar, mas esqueci
Tentei lembrar, mas lhe perdi
Tentei forçar, não consegui
Voltei a tentar, e me excedi

E é isso que falta, pra eu dormir
É isso que falta para conseguir
Achar a resposta desta questão
E mesmo estando com tudo na mão
Resta sempre aquele espaço vazio

Como melodia, ou som, que provoca arrepio
Toma meu corpo, penetra na alma, e esboça na boca
Minha voz chega a ficar rouca
E descaradamente, até disso você ri

Sem dar a resposta que eu te pedi
Resposta da qual, não sei a pergunta
Nem lembro sequer o motivo da dúvida
Tentei lembrar, mas me perdi

E nessa volta de questões eu vi
Não há pergunta, não há resposta
Só há memória, e acho que basta
Pra querer de perto sentir

Para querer de longe ouvir
Teu corpo quente é meu desejo
E é quando eu vejo a noite surgir
Que fica mais claro meu anseio

De ter você, em forma de beijo,
E passar a noite neste devaneio
E ir até esquecendo de terminar o poema
Esse que antes não tinha nem tema

Mesmo que isso não fosse problema
Só mais duas frases para acabar com o dilema
Deixa, a gente resolve tudo de perto
Mesmo que isso não seja correto




Quem disse?




Ouvi dizer, desdizer 
Mentir, desmentir
Voluntariamente me faço entendido
Sem deixar perceber minha distração
Eu falo com certeza

Com a certeza de que vou voltar atrás
E quando falo sem certeza
Sem preocupação o faço
No laço e no traço
Apago e escrevo por cima

A folha eu amasso
Falo que não falei, para não falar que faço
No ato sem tato 
O contato entre uma colocação e outra

E falo com certeza
É falha a minha clareza
Logo escurece
Minha prece se esquece que aquece

Aquele um ou aquele outro
Que ferve a cuca para não ser precipitado
Revezando e rezando com todo cuidado
A negação nossa de cada dia

Se encontra entre as brechas
De uma contradição e outra
O orgulho de não assumir no ato
Um rato no prato

Que o seu dizer te contradiz
Que o teu dizer se contradiz
Se encontra quando diz
Chamariz, flor-de-lis, do palhaço o nariz


Caminho




Há quem se perca por tão pouco
Parece até que vale a pena
Deixar o sonho ali deitado
E até olhar pra ele com cuidado

Deixar o sonho com cuidado
Parece até que vale a pena
Mas há quem se perca por muito
E até olha pra si com descaso

Deixar o sonho por descaso
E até fingir que foi bem planejado
Parece até que vale a pena
Arrumar desculpa pra derrota

Há quem se derrote por tão pouco
E mesmo sabendo que nem vale a pena
Deixa de lado o que foi planejado
E faz parecer que é de bom grado

Mas há quem não tenha desistido
Quem passou do meio do caminho
E até olhou pra cima com cuidado
Agradecendo a Deus por ter sonhado

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Pode confiar!



Confiar…?
Um dos maiores – para não dizer o maior – dos problemas nos relacionamentos humanos é a tal da confiança. Problema que caminha lado a lado com a tal da mentira. É tão simples de se enxergar isso, que basta perguntar à um casal de namorados se um confia no outro. Certamente eles responderão que sim, com um sorriso amarelo no rosto. É mentira, não confiam. Viu, lado a lado.
Não é de se espantar, se pararmos para pensar. Para fazer uma boa referencia, vou usar como exemplo o ser mais confiável que, para mim, existe: Deus. E nem mesmo nEle confiamos.
Quando tudo está bem, você está pelo menos parcialmente satisfeito com o seu emprego, tem bons amigos, tem uma boa proporção de lazer, trabalho e família em sua vida, certamente gritará ao mundo inteiro o quanto a sua vida é boa graças à confiança. Confiança em Deus, confiança na estabilidade, confiança no parceiro.
Acontece que quando as coisas andam bem, não temos muito com o que nos preocupar. Mas basta um cascalho no seu caminho, nem precisa ser uma pedra, mas se esse cascalho te fura o pé, estranhamente tudo se volta contra você. Suas crenças se enfraquecem, seu emprego vira uma chatisse, sobra mês no fim do salário e aquele (a) cretino (a) deve tá te traindo.
Como é que uma coisa que só fez parte da sua vida por alguns instantes, apenas um cascalhinho, pôde te revelar o quanto o mundo conspira contra você?
E Deus, cadê Deus?
Com toda certeza eu te afirmo que ele está no mesmo lugar. Mas e a confiança, cadê a confiança? Bom, quanto à isso já não tenho tanta certeza.
O ser humano tem muita dificuldade de conhecer a si próprio, e não é para menos. Somos complexos, temperamentais, mudamos de idéia, aprendemos, erramos, acertamos, mudamos de idéia de novo, cansamos… Muita coisa acontece na nossa vida, que nos faz perceber que em cada situação nós somos um. E, ao mesmo tempo, somos os mesmos, a vida toda.
Essa dificuldade de se conhecer nos leva a achar ainda mais dificil conhecer o outro. Isso porque no fundo no fundo a gente sempre se acha o máximo. Então se eu, que sou o máximo, sou esse turbilhão de mudanças constantes, imagina o outro? E esse pensamento é coerente. Pode-se esperar do outro tudo que se espera de você mesmo. E é aí que entra a tal desconfiança. O fato de você reconhecer, mesmo que no seu subconsciente, de que você é um ser humano, errante, falho e pecador, já te basta para olhar para o outro com esses mesmos olhos e supor que por serem semelhantes, suas atitudes podem ser as mesmas diante de algumas circunstancias.
Voltando lá no Éden, quando tudo era perfeito e não existia celulite, nós podemos observar talvez a primeira falha de confiança do homem. Adão e Eva confiavam plenamente em Deus, certamente. Mas o ser humano é falho, e curioso. E a curiosidade vem, muitas das vezes, acompanhada pela ingenuidade. Eva confiava em Deus, sim. Mas confiou também na serpente. E se decepcionou. E hoje em dia – e vale dizer que eu não apoio isso – a mulherada usa sapatos, bolsas e cintos com pele de cobra.
A ingenuidade de Eva a levou ao pecado, a levou à desobediencia. Ingenuidade essa que a fez crer que a mordidinha básica que ela deu no fruto proibido ia passar despercebido aos olhos de Deus, o Todo Poderoso. Deu mole né…
O ser humano, acredito, trai a confiança de alguém pela mesma ingenuidade de Eva: achar que não será descoberto. Mas Ele já disse que “… nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido”.
E também não foi Ele que disse que “Maldito o homem que confia no homem”? E, como o de costume, dia após dia a gente percebe que Ele tá sempre certo.
A nossa falta de confiança no homem é totalmente explicável, entendível, e até mesmo saudável. Mas como explicar a nossa falta de confiança em Deus? Porque, até onde eu sei, toda fonte de sofrimento e dor que temos atualmente, provém do homem, e tudo que nos conforta provém de Deus. O que Ele te fez para que você não confie? Pode pensar até o fim da sua vida, e não vai encontrar resposta. Simplesmente não confiamos porque somos humanos. E mesmo Jesus, na condição de ser humano, sendo crucificado, clamou à Deus se sentindo abandonado. E, felizmente, Deus tem misericordia de todos os seus filhos.
Mas você não é Deus. E você fica indignada (o) de ver que seu (a) parceiro (a) não confia em você, que é o máximo, e fica indignada (o) de perceber que não pode confiar nele (a) plenamente, que é um (a) bocó. Como lidar com isso?
Bom, se você não pode confiar no (a) seu (a) parceiro (a), entregue sua confiança à Deus, porque Ele sim é digno de toda confiança, e Ele sabe como te orientar para que você aja de maneira que tudo de bom aconteça na sua vida. Lembrando que o fato de você não poder confiar no (a) seu (a) parceiro (a) e nem ele (a) em você, não significa que você é uma piriguete (ou um pirigueto) e ele (a) um galinha. Eu não confio em balança nenhuma que eu subo, porque eu sempre acho que ela rouba pra mais. Isso não faz da balança a culpada por eu estar longe de ter a silhueta da Gisele Bundchen. Não é porque você não confia em alguém, que essa pessoa vá te decepcionar. Talvez sim e talvez não.
Mas, pode levar fé que se você se decepcionou hoje com esse (a) idiota do (a) seu (a) namorado (a) que te traiu com aquela baranga (ou aquele barango) da faculdade, foi melhor pra você. Tudo que acontece na sua vida querida (o), é o melhor para você.
Ah, e nada de vingança heim meninas, já basta as cobras que viram sapato até hoje.

Mundo Googlelizado



Não é incrível como, hoje, só se passa por ignorante quem quer? É sim. Pense bem... Numa das suas conversas via MSN, quando alguém menciona um nome que você não conheça… Jean Claude Van Dame, por exemplo. Você poderia muito bem esmagar o orgulho e, humildemente dizer "Desculpe a ignorância, mas quem é esse?". Mas, não, meu caro, você não faz isso. Antes mesmo de dar tempo de pensar em Google, seus dedinhos já estão digitando www.google.com.br, seguido de "Quem é Jean Claude Van Dame" e, tão rápido quanto um raio, sua mão se joga para cima do indefeso mouse, e clica louca e desesperadamente em “Buscar”.
Ok. Não foi bom dar como exemplo nosso companheiro de filmes de domingo à noite. Até porque, se você não sabe quem é Jean Claude Van Dame, você provavelmente não sabe o que é Google e nem o que é mouse.
Desinteressa.
O fato é que a informação hoje chega tão rápida, que mal conseguimos acompanhar. Tem hora que isso é bom, tem hora que não. E outra: ninguém mais vai à Biblioteca Municipal para fazer pesquisas, tadinhos dos livros. Tadinha da tia da biblioteca, não faz mais “xiiiiu” com a mesma frequencia. Temos o mundo dentro do nosso quarto, ocupando menos de um quarto dele.
Para ilustrar o texto de hoje, vou contar a história que minha amiga Natália (que é a única pessoa que eu conheço que vai na Biblioteca Municipal, e vive pagando multa por atraso, diga-se de passagem) viveu um dia desses e veio me contar.
Ela tava no balcão do Mc Donald´s esperando seu lanche, quando se aproxima um menino de aproximadamente cinco anos de idade. Ao lado dele, tinha uma cesta cheia de maçãs e, do lado dela, uma estufa com aquelas tortinhas de maçã. A cesta, lógico, era decorativa, cheia de maçãs vermelhas, grandes e lindas.
O menino então chama a atendente e indaga, olhando seria e friamente nos olhos dela:
"Moça, essas maçãs são geneticamente modificadas?"
Hã?
Na idade dele eu nem sabia pronunciar "geneticamente"! Não sabia por que não precisava, né. Não tinha nenhuma Barbie da Genética, nem um Ken Agrotóxico.
Por que é que essa criança não tá brincando de pique-qualquer-coisa na rua? Trocaram o pique na rua, pelo nick no MSN e ficou tudo certo? Oh, o mundo informatizado cruel!
Eu fico imaginando - tendo pena, na verdade - como será a infância do meu filho, quando eu tiver um. Mais calor, com certeza, ele sentirá.
Barbie será coisa de colecionador. Brincadeira de rua, tema de livro nostálgico.
Triste. Eles nunca saberão o quanto é bom passar uma tarde correndo pra lá e pra cá…
E gente, McDonalds? Não vou nem falar no índice de obesidade… Mas “crescimento exponencial” define.
Mas, o Chaves resiste a tudo isso, inclusive à filosofia de horário aleatório do SBT. Legal né?

NOTAS:
- Resposta da atendente ao menino esperto: “Você vai ter que perguntar pro gerente...”
- Confissão: eu digitei o nome do Jean Claude no Google, para ver como se escrevia corretamente.