Senhora Cenoura, quero dizer-te
O quanto me alegras o almoço
É lindo quando nadas no azeite
Não és amarga e nem tens caroço
Eu te cozinho e te sinto adocicar
E fico ansiosamente curiosa
Para descobrir no meu paladar
Se tens o mesmo gosto da prosa
Queria saber se seu ciclo erra
Por ser o contrário dessa humanidade
E começar lá debaixo da terra
Onde jaz os que me dão saudade
Que te aconteceria na vida
Se te deixássemos enterrada?
Cê se sentiria agredecida
Por não ter virado salada?
Eu só sei pisar a terra, mas você
Com esse seu nascer subterrâneo
Já deve ter conseguido perceber
Onde se pode ser mais espontâneo
Acho que já fomos vizinhos lá no Éden
Onde o homem brotou do pó da terra
E pelo nível de pecado é que eles medem
Se a porta do céu abre fácil, ou emperra
Ah, ando preferindo virar salada
Sem precisar pensar no sentido da vida
Não importa se cozida, ou crua e ralada
Teria ao menos garantia de ser bem comida
Nenhum comentário:
Postar um comentário