domingo, 25 de dezembro de 2011
Pra Você Ler
Queria que sua existência me bastasse
Pra me satisfazer só em te observar
Queria que seu braço me apertasse
Pra me impedir, de novo, de me afastar
Eu tenho que dar um jeito de sumir
Com essas pistas que me tornam suspeita
Daqui a pouco já vai dar pra ouvir
O quanto o seu simples mover me deleita
Passa pra lá e vai rir com alguém
Quanto mais te vigio, mais te perco
Passa pra cá, traz o seu blém blém
Me deixa cantar e abre esse cerco
Não pára de falar, deixa sair da boca
Que eu acho que a palavra até envaidece
Sendo entoada por voz levemente rouca
Tenho até dúvidas se meu ouvido merece
Me deixa durmir, que já é amanhã
Sai da minha cabeça! Ou entra por essa porta…
Ou pára de me servir como casaco de lã
Ou me abriga de uma vez ou me aborta
Não, não ri tão fácil pra mim
Cê não vê que isso só me piora?
Não dou conta desse riso tão mirim
Que vira um ímã e me demora
E nada me livra da expectativa
Desse meu sentir ser possível
Desse seu sorrir que me cativa
E nada me livra do imprevisível
Qual será a ferramenta que desconstrói
A beleza que envolve esse desejo
E força o sujeito a virar príncipe e herói
Chega a brotar candura até no seu bocejo
De repente o motivo da recorrência
De tanto sentimento desconfiado
É que o poeta se usa da carência
Pra ficar ainda mais agoniado
E fazer tudo virar verso bonito
Torcer que alguém, entre vírgula, se veja
Em algum ponto desse perene conflito
Entre o que se supõe e o que almeja
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