Foto: Milton Montenegro - Sísifo - 1988 |
Repara nessa vida, que
sempre que o céu anuvia,
a primeira gota de chuva que cai
toca a sua face.
Ela não cai no asfalto, nem no arbusto;
ela se joga do alto - como num susto!
E se entrega à tua testa.
A notícia de que tudo vai molhar
chega primeiro em você.
O céu pode escurecer, trovejar,
mas a certeza consumada
da cachoeira celeste
que aparece pra ser norte
se dá apenas quando a sua pele,
a sua cansada, queimada e suada pele,
é acariciada por ela: a primeira gota da sua chuva.
Às vezes ela demora a cair
porque você se mexe muito, e ela
fica lá de cima a te mirar, a quase cair,
a repensar, recalcular,
a fazer de tudo para não te errar.
Porque a primeira gota da sua chuva sabe que,
se ela anunciar seu temporal aos outros antes,
guarda-chuvas se abrirão como primavera.
E, muito mais rapidamente, as pessoas
andarão mais rápido e olhando para baixo,
e não para o lado, e bem menos para cima.
As poças escondem os desníveis das suas ruas,
a lama te convida a escorregar,
e é o medo quem dita as cores à sua volta,
escolhendo a diversão ou o caos.
A primeira gota da sua chuva é você quem sente
e a intensidade das suas águas não te embaça a lente,
porque você enxerga a naturalidade dos seus temporais
com a pele.
A primeira gota da sua chuva, é você quem sente.
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