Parede branca toda marcada
Por poeira e por mão tateada
Abriga o prego velho e vazio
Que espera para ser sufocado
Pelo pendurar de um quadro
Já teve serventia ao ambiente
Embora declare não estar ciente
Se dispôs de sua força então
Para embelezar a decoração
Mas, de coração ele entende
Se enamorou por uma moldura
Que se segurou nele com doçura
Mas o prego nunca pôde ver a tela
Um dia bateu um vento na janela
Derrubando o quadro no chão
Revelando a triste constatação
De que ali só mesmo a moldura
Lhe despertava o pulsar apressado
Naquela tela faltava ternura
Era uma simples natureza morta
E seu moldurado de madeira torta
Iludia ao prego, fingindo respiração
Que não passava de simples reação
Entre o verniz de um
E a ferrugem do outro
Agora seu único contato próximo de vida
É pela tecelagem artesanal sofrida
Pela qual a aranha fabrica sua teia
E o prego se lembra e se chateia
Que seu ambiente querido
Virou um lugar esquecido
Não atrai nenhum sujeito
E virou o lugar perfeito
Para as teias em armadilhas de peso
Armadilhas onde o passado está preso
E, como presa, seu destino é ser refeição
Depois de tanto ter sido refeito
Termina virando refém
O passado do prego ele lembra bem
Cheio de marteladas enclausuradas
Fixado no branco da parede emassada
Que se apresentava como paraíso
Mas, também o paraíso foi enganador
O futuro do prego é o enferrujar
Não adianta rugir nem rezar
É ordem química natural de seu organismo
E ele percebe a falta de abismo
Na relação entre a ferrugem e o desuso
Falta de cuidado ou um intruso
Destroem a utilidade inicial de sua existencia
O presente do prego é a esperança
E o romantismo de que alguem veja o belo
Que atraiu ferrugens e teias como castelo
E possa ainda nele pendurar
Tela leve que não o faça despencar
Seja bela mas não passe fome
Como é o anjo de cabelo roxo
Vomitando no inferno
Com o cachorro rosa olhando
E o anjo insiste em chamar o prego
De amor
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