segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Tango com Sanfona




Dois pra lá
Dois pra cá
Segura minha cintura
Me roda na sua gira
Pra frente
Pra trás
Conduz sem notar
Guia pra dançar

Cola o rosto
Gruda o peito
Me embala no seu ponto
Na sua reza e no santo
Dá risada
Pé pisado
Que linha é essa que tá
A querer me imantar

Pede um chêro
Eu dou um bêjo
Mostro passo novo
Pro meu preto velho
To a me molhar
Com meu marinheiro
Que dentro do peito
Traz uma criança
To morando dentro
Desse meu cigano

Eu, Maria Bonita
Ele, o Cangaceiro
Ele é minha Bahia
Xô, Seu Cabroeiro!

Ele vai e me leva
Aonde eu não sei
Eu bem urumbeba
Fui, nem perguntei

Nós dois pra lá
Nós dois pra cá
Entendi o porquê
Ele gosta de dançar
Puxa pra frente
Eu vou atrás
Cigano não se encrava
A vida é um cais

Nesse vai e volta
Ele vai viver
E se ele não me solta
Eu vou até o amanhecer

sábado, 21 de janeiro de 2012

Poetecétera




Eu não faço poesia
Poesia eu sou
Faz poesia quem cria
E como a cria poderia
Elaborar seu criador?

Poesia não faz poesia
Faz poesia quem cria
A obra não se constrói a si
Por mais que possua receita
E ainda que tudo esteja
Ao lado de seu contrário
Não há cria que se crie
Pois não há cria eterna
Criaturas se reproduzem
Logo, não se criam

Por já estarem prontas
Não há o que acrescentar
Ou retirar, ou trocar
E ainda que houvesse
Seria simples invenção
Ou ânsia de modificar
Não seria criação

Eu não faço poesia
Faz poesia quem cria
Poesia eu sou
E por ser cria
Trago limites no ser
E meu ser é poesia, e
Tudo que posso fazer
É ser

O criar está reservado
A quem não é poesia
E sem esses quems
Eu não sou poesia
E não há quem as faça

É mistér crer
Pois faz poesia quem cria
Na vida como versaria 

Acaso




É em vão
Tudo que eu faço é em vão
Simplesmente porque não existe
Ainda que seja real

E ainda que seja existente
Simplesmente não é real
E realmente não é simples
Porque nem o simples existe
E em consequencia disso
Não existe também o seu contrário

E o complexo não é real
E nem existente
E aí tudo é em vão
Porque todo meu movimento
É entre um lugar e outro
É onde a coisa não é
E nem deixa de ser

É no vão entre o sentido
E seu contrário
Porque a mim não cabe estar
Indo ou voltando
Caindo ou levantando
Blasfemando ou glorificando
Porque a minha única certeza
É aqui

Não existe outro momento ou memória
Seja na projeção, na fé, desejo ou ambição
Em que eu possa confirmar minha vivência
Pois só me tateio no presente do vão
E a minha humanidade me limita
A ter certeza somente da minha carne
Que perece a cada dia, mas é quente

E reflete no espelho
E é a essa recompensa
Medíocre e vergonhosa
Que me sujeito todos os dias
Nos vãos de lugares opostos
Irreais e inexistentes
A fantasiar tudo que me rodeia
Como se eu fosse algo além de olhos
E cabelos
E como se eu não fosse

Nem a certeza me garante existência
Nem a realidade me certifica qualquer
Garantia
Assim como o besouro
Aerodinamica inexistente
Ele tem asas mas
Não tem condições naturais de voar
Mas voa

E tudo que está entre sua insética condição natural;
Sua existencia com ausencia de destinação ao vôo;
E a falsa existencia de suas asas
É em vão e está no vão, entre o ar e o solo
E o besouro ainda acha que voa

Não percebeu ainda que simplesmente
Locomove
E mesmo observando águias que cortam o céu
E ficam pequenas
Dada distancia entre a visão do besouro
E o vôo da águia
Distancia essa que nada mais é do que
Em vão
E está no vão, e é irreal e inexistente

Também é o seu contrário, bem como não é
Mesmo tendo o besouro observado a águia
Ele ainda acha que voa
Inda que a águia lhe diga
“Como fosse compreensível possuir o vôo
E não ser capaz de ter, nas asas, força
Que te levante ao cair
De costas”

Por mais que a águia lhe diga
Sem linguagem que não sua própria condição
Sem precisar falar, mostrar ou desenhar
Sem sequer saber que faz parte do diálogo
Apenas fazendo o besouro questionar-se
Inda que a águia lhe ponha duvida
O besouro ainda vê suas asas

Sente suas asas, as escuta bater
Se ergue do chão
E se acomoda no tato de sua carne
Para acreditar no que satisfaz sua vaidade
Na falsidade real, existente e contrária
Julgando-se privilegiado
E se apoiando na fé
“Não mais cairei de costas
Se aperfeiçoar meu vôo”

Ele não voa, e por isso cai
Experimentasse aperfeiçoar seus
Passos
Apoiados no vão
Entre mover-se e o cessar de mover-se
Não cairia de costas
E, caso caísse, acreditaria estar simplesmente
Deitado

Uma Conversa Muda



Uma coisa que eu tenho observado nas pessoas que falam muito, é que encaram o silêncio como vazio e desconfortável. Não digo as pessoas que falam muito por encherem suas histórias de detalhes, ou ainda aquelas que têm muita história boa para contar, nem tampoco daquelas que falam muito por terem muito o que reclamar. Essas não estão com medo. Eu falo daquelas pessoas que, mesmo tendo o consentimento da companhia alheia - inerente à intimidade ou não da relação, seja qual for – de que o silêncio entre as partes não insinua nenhum tipo de barreira, pendência ou sentimento ruim; mesmo assim, não suportam a convivência com o silêncio.
Estejam na companhia de alguma pessoa, coisa, ou animal, não aceitam que o silêncio adentre a conversa. Ainda que estejam na companhia apenas de si próprias, ao silêncio não se permitem. Se apressam a usar palavras como fossem qualquer coisa que sirva de bóia, no alto mar da ausência sonora. E, para que bóie, requisita-se densidade menor que a do silêncio, e isso não é difícil, muito embora seja confuso entender como pode a ausência de qualquer coisa ser tão densa, e sua presença ou seu excesso não necessariamente amenizar sua densidade, como acontece com o diálogo: sua ausência pode ser densa, mas seu excesso também o pode ser, e também pode não ser, se enxergarmos a densidade como uma riqueza. No caso dessas pessoas as quais me refiro, a elas só resta a usar palavras como ingredientes de diálogos pobres, de densidade insignificante diante do silêncio, para que boiem.  
Ora, que é o silêncio além de um convite ao diálogo (denso) entre você próprio e as eternas perguntas proferidas por questionadores, internos ou não, dos quais nem mesmo de sua existência temos certeza, ainda que tenhamos a lembrança de suas interrogativas? E, por assim ser, o silêncio nada mais é do que você.  
Essas pessoas, as quais me refiro, sentem necessidade de abafar o som da voz de si próprias a clamar “Converse comigo…”. Para isso, usam de qualquer artifício que sirva de ruído, seja ele externo tal como monólogos; cantarolares; assovios; conversas vazias; repartição de informações sabidamente repetidas; ou interno, tal como orações; cochilos; mudanças no dispôr dos móveis para ilusionar melhorias internas; análises profundas sobre seus semelhantes, distraindo-se, buscando conhecer o outro, na esperança que isso proporcione o conhecimento de si.   
Narram suas vidas como devessem satisfação de seus atos e vontades, vivem a informar o que fizeram ou não; onde erraram e acertaram; seus porquês e benfeitorias, achando que com isso conseguirá atingir seu objetivo de fazer com que os outros acreditem nessa imagem projetada, onde mora também a esperança de que quanto mais pessoas acreditarem no que está sendo mostrado, mais perto do real isso se achegue.
O silêncio não é só ausência, mas também plenitude, assim como o nada pode ser o todo. É onde o ser é, e o é sozinho.
A falta de amor próprio se define na não visitação de seu silêncio e no desrespeito de querer sonorizá-lo sem melodia harmônica. 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Recita a Receita

Para Ramon, o chef de poesias e poeta de temperos


É o cômodo a melhor te acomodar
Bem como memória acomoda aroma
Logo a boca é morada pro paladar
Ao passo que a pele a tudo se soma

Esse tempero é a sua alquimia
Traz melodia ao seu refogar
Desperta do sono a fresca poesia
Derrama ouro pro alho se banhar

Suas medidas sempre a versar
A impotancia da xícara em ¼
Rima regendo o seu misturar
Até orquestrar o ponto exato

Um quarto é cômodo, e medida
São quatro paredes, ou partes
Guarda a noite bem dormida
Como a horta acomoda tomates

Já não lacrimeja pela cebola
Mas não cessa de se emocionar
A borbulha, o dendê e a cenoura
Fazem cômodo no seu olhar

Com brandura aquece o azeite
Faz chamego com faca afiada
No sorriso acomoda o deleite
Pela história da pele cortada

Itinerante Errante




Inda bem que cê não tá aqui
Porque se tivesse, tenho certeza
Minha cabeça ia correr pro seu peito
Com a urgencia de uma gentileza

E aí amigo, você pode apostar
Quando o sol viesse se assanhar
E a água empreguiçasse de pingar
De mansinho, pra ninguém escutar

Um arco-iris muito atencioso
Se achegaria em passos de pluma
Se segurando para não gargalhar
Ou fazer barulheira alguma

E aí amigo, você pode apostar
Que ele nem faz questão de brilhar
Pede pra cada cor se acinzentar
Pra num criar gana de fotografar

É muita sorte cê não tá aqui
Senão, eu tenho certeza absoluta
Eu sei por experiencia própria
Que o céu adotaria essa conduta

Esse seu peito é uma percussão
Precussor, percurso e perfeição
Ímã pro meu ouvido e minha mão
Tão vital quanto a fascinação

E toda vez que eu chego perto
Abaixa o volume de toda vida
Céu e terra arranjam complô
Pra que eu escute só sua batida

O arco-íris só não desaparece
Porque essa é sua maior prece
Dizem que ele rejuvenesce
Sempre que sua pele me aquece

Inda bem que cê não tá aqui
Senão o arco-íris eu ia perder
Mas hoje ele tratou de me contar
E eu tratei logo de escrever

Porque coisa bonita desse jeito
Tem de ser sabida a todo sujeito
Já que não é só nosso o direito
De amar na cabeça e no peito 

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Falta De Coração

Por Richard Bruno

Coisas importantes deixadas pra trás
Como quando eu era crianca pequena
Eu gostava demais de desenhar
A qualquer hora em qualquer lugar

Um dia na volta da escola recolhi
Santinhos de policos com suas caras
Eu pintava caretas por cima das fotos

Pintava palhaços sem saber que um dia
Quem ia fazer careta era eu
Quem ia ser o palhaço era eu

E acabou a época da inocência
Perdi um pedaço da felicidade
Que me iludia durante um dia
De sol nas ferias no bairro
Andando com meus amigos fieis
Deles sobrou só a lembrança
E muitos outros passariam
Mas poucos são os que permanecem

E um dia na volta do bar eu parei
Vi políticos se fingindo de santos
E álcool já no sangue me deu propulsão
Virei uma bazuca de juca com mira laser
E meu bolo gastrico acertou em cheio
A careta dos palhaços assassinos
Como bombas de merda acumuladas
Anos e anos dentro de mim

E se ouviram alguns tiros
Pais e mães seguraram seus filhos
A policia chegou atirando
Acertando meninos e meninas
Que foram la cuspir pra fora
O que os secava por dentro

E se via terror na cara do prefeito

Ver seu filho ensanguentado caído
Com um buraco no peito

Levantando a mão, como se pedisse licença
Na classe pra falar, mas era tarde demais
Tarde demais
Tarde demais

Por falta de educação
Por falta de coração
Mais uma vida se fez
Recordação!

Verbo Sem Tempo



Deixa deus ser o que quer 
Tem aquele deus que é dois
Tem mais esse três que é um
E não falte feijão com arroz

Esquece a letra maiúscula
Que nem mandamento isso é
Criador tá nem aí pra escrita
Só não passe borracha na fé

Gula no almoço de domingo?
Na parede do templo, vaidade?
Preguiça de amar o próximo?
Problema é seu, meu cumpadi!

Virgens te esperam la no céu
Oh, inferno tá te esperando…
E se antes de casar é pecado
O boto acaba te engravidando…

Um monte de irmão bastardo
Você chamando Exú de capeta
A humanidade tá te abortando
Seu tutor é o boi da cara preta

Uns proíbem o cotovelo na mesa
Outros não têm o que mastigar
E a gente seguindo na discussão
Se tá certo ou não reencarnar

Se é religião ou se é seita
Se o cara é do bem ou do mal
E na hora de doar um kilo
Tem bonzinho que nega até sal

O crente é fanático, grita muito
Católico é pedófilo, olha lá
Macumba é macabra, mata bicho
Rastafari é fumaça, Bob e Jah

Desviado é quem voltou a beber
Ateu, coitado, só precisa de fé
Viado não tem livro na bíblia
Agnóstico eu nem sei o que é

Eu pulo onda, desconjuro, ganho a fé
Perco a crença, torno a tê-la, viro ateu
Bato tambor, medito, fumo um ou dois
Durmo com os anjos e com Morpheu

Sou puta, atiro as ultimas pedras
Sou corrupta, roubo até o perdão
Sou uma bicha beata e barraqueira
Mas aceito Jesus no coração

Tomo passe, benção, ayahuasca
Coca-cola, em pé e na bunda
Carrego tudo isso nas costas
Repara como eu to corcunda

Não pode não ter religião
E religar com deus seu contato
A central de atendimento divino
Tem endereço e horário exato

Inda que eu faça uma reza de cada crença
Tenha um santo como corrimão de escada
Perdoe, doe pão, diga amém e faça yoga
Inda vão achar que de deus eu to afastada

Como pudesse me afastar do meu sangue
Meus amores, calores, odores e tremores
Pensamentos, mente, mentiras, verdades
De deus, do mal, todos meus moradores

Não lembro quando é que decidimos
Que devemos nos encaixar e classificar
Em outro lugar a não ser em nós mesmos
Onde habita o que for que vá nos salvar

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Amaria



Era uma vez…
Não! Vou contar a verdade procês
É que eu bem me alembro muito mais de uma
Duas, três.. Quatro! Quatro vêis!
Era quatro vêis, uma menina muito da sabida
Ela morava assim muito bem escondida
Um caminho onde passava boi, passava boiada e tinha descida
Se trata da neta do seu Joca mais a dona Lina
É a menina Maria, cabelo bem grande, cintura bem fina
Caminha elegante, num nasceu pra lidar com criolina
Mas ocorreu que um tal de azar pegou Maria pela esquina
“Desça desse salto, menina, e ponha-se no seu lugar”
Isso foi o que dona Vida mandou lhe falar
Depois de ficar sabendo essa história que eu to a lhe contar

Da primeira vez que foi procurada pelo cumpadi Amor
Maria abriu as portas de casa como quem recebe o próprio Redentor
Ai, o Amor ficou danado de feliz, mas tava um baita dum calor
E ocorreu de aparecer um moço oferecendo venda de ventilador
O Amor se apressou pro lado de Maria e com ela abriu a porta juntinho
E quando surgiu a figura daquele vendedor magro e de sol torradinho
Maria deu de costas e preferiu o calor a deixar entrar o coitadinho
Diz que esse moço andou ainda algumas estação bem de mansinho
E arrumou uma moça que sentiu por ele paixão em desalinho

Depois da feira de São João, Maria viu o Amor escalando sua janela
Jogou logo três lençol amarrado e puxou o amor pra ela
Nessa hora se ouviu uma bela serenata, adentrando a viela
Até a mãe de Maria correu pra ver, largou pra trás as panela
E acompanhado pelo violão faceiro, tava lá o menino Bernardo
Rapaz trabalhador, filho de sapateiro, e pra lá de bem educado
“Filho de sapateiro só dá certo com centopéia”, Maria deu o recado
E no caminho de volta pra casa, Bernardo viu seu violão se apaixonar
Pela flauta da filha da Terezinha que soprava pelo ar
Dizem que tiveram afinação até pra dizer “sim” no altar

Um caso pra lá de curioso aconteceu da terceira vez
E o Amor, que já tava cansado, tornou a ter esperança outra vez
Maria colhia flores pra por no centro de mesa com toalha xadrez
E o Amor, nada bobo, se ajuntou ao néctar e foi respirado
E depois de uns passos, bastou Maria olhar pro lado
E ver um rapagão bonito e de dente branco a mostra, todo confiado
Maria ficou um tanto interessada, se adiantou a fazer um perguntado
“Ô moço, nunca te vi por aqui não. Qual é o ofício de seu pai?”
E ouviu resposta boa, “Meu pai é dono de negócio! E você, como vai?”
Vixe, que Maria sentiu até a necessidade de chegar perto e ver a cara
E facilitar a prosa com o bom partido que Deus enfim enviara
“Obrigada meu Pai! Valeu mesmo a pena ter esperado!”
O rapaz tinha o riso leve e falava um bucado engraçado
E notou logo logo o interesse de Maria em avançar pro seu lado
Decidiu que era melhor esclarecer logo o mal passado
E Maria desfaleceu ao escutar “É que eu tenho namorado”

Esse da quarta vez não era vendedor, filho de sapateiro ou viado
E o Amor tava já fazendo hora extra no caso de Maria
Voltou a aparecer pra ela, e numa noite dessas bem fria
Ele se pôs em cima de seu cobertor pra lhe passar caloria
E acontece que passava pela cidade nessa noite esquisita
Um circo com mágico, mulher barbada, palhaço e trapezista
Maria achou curioso, até mesmo a friagem se fez bem quista
E ela foi pra rua ver o que sucedia com tais viajantes
“Como é que eles arrumam de ser feliz sem coração amante?”

Foi ter com o mágico, que tirou do bolso um barbante
E foi mostrar a ela como fazia cosquinha no elefante
Respondendo a moça em tom calmo e constante
“Até mesmo o elefante sorri comigo se eu mostrar o quanto lhe tenho apreço”
Maria não agradou da resposta, “sei que argumento melhor eu mereço”
E foi ter com a mulher barbada, que tinha pêlo na cara desde o tempo de berço
“Se tenho pêlo na cara ou não tenho, pouca diferença isso faz
Conheço muita gente de cara lisinha que nunca teve paz
Por achar feio ter pêlo no rosto e aceitar ter nó na garganta”
Maria até achou filosófico, mas tava pensando em voltar pra sua manta
O frio apertava e no seu caminho passava o palhaço
“Ô Seu Palhaço, que tanto cê quer fazer essa gente rir com seu cansaço?”
E a resposta não agradou Maria, talvez por lhe pegar de jeito no laço
“Justamente, minha fia, porque não quero me cansar sem fazer alegria”

E o trapezista, que escutava o papo lá de cima pela corda, pendurado
Achou conveniente meter o bedelho e informar o seu achado
“Moça que procura resposta pra sua própria amargura
Tentando deixar amarga até mesmo a doçura
Nunca que cê vai entender de amor de verdade
Ele não liga pra bufunfa, dente branco, vaidade
E a vida chega a cansar de tanto lhe mostrar
Que o amor não nasceu só pra casar
E nem é por luxo que se vai ao altar
Volte pra sua casa e vá sozinha se deitar
E te acostume a sentir o pé congelar”

Maria nunca mais recebeu visita inesperada
Já que o Amor seguiu sua estrada
E a moça ficou toda deselegante
E sofre até hoje a todo instante
Por não ter convencido o rapaz afeminado
A provar da sua receita de melado
De certo que ficaria apaixonado
E Maria num aprendeu foi nada
E continua a ser moça descasada
É mal que não tem diacho de remédio e nem chá
E aquilo que não tem remédio, como diz o outro
É porque remediado está

domingo, 15 de janeiro de 2012

Traída e Distraída




Eu vou a tantos lugares
E não faço o que eu fui fazer
Que eu chego a ter medo de estar fazendo
O mesmo com a minha própria existência
Deixando a distração tomar conta
Do espaço oco onde eu dou passos
Entre a ideia que me tira da inércia
E o suposto ambiente perfeito
Em condições adequadas para realiza-la
Ou talvez meu julgamento esteja errado
A respeito da idealidade do lugar ambiente
Quanto a sua perfeição e destino
E, como fosse um anjo que me proteje do pior
A minha memória
Que por vezes encarei como meu demônio
Interfere meu caminho de objetivos
E faz saltar na minha frente
Algo que me rouba atenção
Como quem dispõe um pirulito
Colorido e redondo para uma criança
Ou faz com que minha percepção detecte
Alguma urgencia que já está ali a meses
Talvez anos, maturando a cada instante
A sua pressa em ser respondida;
Como fosse uma criança sozinha na rua
Que chora por ter perdido seus pais
Ou seu pirulito
A minha distração, a minha memória
E a minha urgencia
As duas ultimas vitimadas pela primeira
Acabam me fazendo caminhar para a cozinha
E tomar um copo d´agua
Quando minha intenção era fechar a janela
Porque a chuva se arma;
Acabam sendo culpadas pelos não cumprimentos
Das promessas, e pela perda de prazos;
Me fazem lavar o cabelo duas vezes
Pela duvida de ter ou não lavado na primeira;
Ou talvez seja culpa simplesmente da certeza
Que é a senhora dos meus ideais
E cisma em me iludir de que não carece de revisões
Talvez ela, que me segue, seja quem me cegue
E por vezes me amarre linhas nos membros
Brincando de marionete
Enquanto a minha distração, minha memória e urgencia
Se afiam como navalhas que me libertam braços e pernas
Já que por mais que eu pense num motivo
Que explique como uma linearidade pode ser
Tão confusamente barulhenta
No meio sempre me distraio com o sanhaço
Que faz a bananinha que deixei ali
Na bancada da varanda
Virar um banquete, um almoço de domingo
Em plena terça
E fico pensando…
Que bom que eu cheguei a tempo de alegrar 

sábado, 14 de janeiro de 2012

Tragédia Amarela: Conjugação



Presente
Pré-sente
Sente antes
Ou levantes
Ou lê pós
(Só não cheire)
Os depois
Onde pôs
Seu futuro
Se for turvo
Ou furtivo
Se for fato
Ou fosfato
Aí cheire
Pois olfato
Não te falta
Tem na foto
Envelhecida
A fatia farta
Do que foi
E o que era
O amor de Marta
E Eloísa Amarela


Sadismo



A vida é cheia de presentes
Eles acontecem o tempo todo
Sobretudo entre as horas ausentes
Umidecidas, coloridas de lodo

Acreditar que ontem já passou
É renegar o próprio conexo
Esquecer que quando tropeçou
Um joelho herdou o reflexo

Logo, tudo virou presença
O vento que aos póros empoeira
Ou trouxe vírus de doença
Dando intimidade à cabeceira

Fosse passado, logo esqueceria
O fio da memória, com nós
É anfitrião da íntima romaria
Onde peregrinamos a sós

E depois do agora
Vem o para sempre
O presente da hora
É minuto crescente

O agora é onda, quebra em nós
Não passa disso, e sofre a areia
Nós, um nó, tão desatado algoz
Que com um laço se assemelha

O tempo virou lobo, talvez
Na singela pele de veraneio
Ganhou direção e flacidez
Como relógio fosse espelho

Presente embrulhado, com fita
Que se dispersa entre mil dejavus
Em carniças vivas ele habita
Inda que nos cerque como urubus





quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

É Como Diz


Uma andorinha só não faz verão
Se não tem cão caça com gato
Quem faz a força é a união
Vem galinha, acompanha o pato

E dizem que o segundo a chegar
Já será o primeiro a perder
Aprendi que quem se apressar
Prato cru vai ter de comer

Mas Deus não deixa cobra voar
Eu vejo gente com bem mais veneno
Ter seu próprio avião pra pilotar
E é isso que eu não to entendendo

E só de olhar com quem andas
Já dá pra dizer quem você é
E Jesus também andava com Judas
O diabo tomava com Deus seu café

Dizem que a justiça pode tardar
Mas resguardam nosso conforto
Dizendo que ela não costuma falhar
Perdi a pressa depois que virei morto

E você vai longe se for devagar
Aí eu fico aqui pensando quetinho
Já que o mundo corre sem parar
Vamos é ficar na metade do caminho

As Contas dos Pés

- Com Wesley Faria

Pro ce ssa
'Pra vc, são salvador'
Pra vc são poesias!
Pra outros, profecia!
Pra gente pro te ção
Pro santo que tecia
Pro santo que ora
Pedindo a outro santo que o mau vá se embora
E que volte a calmaria, que o silencio é mais queto depois da gritaria
E a luz entra mais bela quando passa pelo vidro da igreja e pelo altar
E o moço parece tela já que os olhos da menina são pincéis a desenhar
Quando o peito sangra dentro, quando o fogo queima lento o desejo de voar
É que eu lembro da minha terra, e mando a sereia entregar o recado, que um dia inda hei de voltar
Pelas pernas, pelo ar ou mesmo a nado, selo o sonho cavalgado por quem ama o seu lar
Mas nasceu sem endereço, e passou a ter apreço, fez das ruas corredores e nos quartos fez amores,
Não tem cerca nessa casa, e na seca a agua é rasa
Como é rasa sua vida se não for regada a fé, é rasa, seca e moída, feito o negro grão de café
Como é em vão matar a rosa pra provar qualquer amor, não confio nem em político 
E nem em quem mata flor
Não quero ver a flor morta ao lado da procissão, quero a vida aqui devolta, nessa areia do sertão
Que em muito se assimila com meu velho coração, que vive a clamar por agua 
E quem acaba molhada é a minha face seca e rachada
De tanto sonhar com o chão, acordo e morro todo dia, esperando sua leveza
Esperando serventia da água fazer represa
Mas só vejo represália, e cada dia morro um bucado, no pescoço levo uma navalha
E no bolso não tem um trocado
No pé tenho pó e barro, na mão tenho ferpa e calo, de tanto levar facada passei a andar sem sorte
Sem direção, sem norte
Faz tempo que perdi a botina, ganhei calo e machucado, e não me calo se minha retina 
Não se convencer que eu já fui escutado
Se a retina acredita a rotina se fatiga e sei que anida há quem diga que não sou pobre coitado
E tudo que eu tenho na barriga, é um pão bem mal assado, que pelo diabo foi amassado
Mas que já me alegra as lumbriga
E mesmo com gosto de pó, ao menos engana a fatiga que o tempo me deu pra levar
E de repente ouço um batuque e sinto o peito se rasgar, é uma mágica sem truque
Minha Bahia a me esperar
Onde o homem é feito de sangue, de aroma e de orixá, onde o mundo é mais profundo
E o oceano é nosso lar
E a gente mora na areia e dá até pra namorar, toda noite é lua cheia 
E toda onda vem quebrar
É quando o mar me chama 'filho' e a palmeira me deixa descansar
Nessa hora penso e choro dizendo "que bom que voltei pra cá".

Foto: Adenor Gondim

Suor Bem-Vindo

Nego Fugido 

- Oxi, oxente! Paulo? Ave Maria!
Quase que nem lhe reconheço
Oxi, que até Pai Bento já dizia
“Ele esqueceu nosso endereço”

- Ê ê, Tonho, não me falta memória!
Jamais esqueço dessa rua perfumada
Onde mora a Maria, a Julieta, a Glória
Como que esquece dessa baianada?

- E vai ficar aí parado, é homi?
Parece até que não sentiu o chero
Cê sempre foi cheio de fome
A Rita inda capricha no tempero

- Nem se incomode em chamar duas vez
Que o estomago já tá lá nas costa
Ô Rita, saudade de ser seu freguês
Ô pai, muqueca! Minha barriga gosta!

- Vamo logo, ô seu safado
Sente aí pra me contar da vida
Cê deixou todo mundo retado!
Nem me lembro da sua partida

- Ói que eu andei foi muito, viu
Mas num do conta de comer e falar
Vá me contando aí quem mais partiu
E repare, diz que a Preta vai voltar

- Vai voltar não besta, já voltou!
Chegou a pouco, uns dois antonti
Tarra aí, se anunciando que chegou
E já foi logo ver o sol pondo na ponte

- Ah, essa vista só tem na Bahia
O sol vai embora com tristeza…
É no nascer que ele mostra alegria
A quantas anda a lavadera Tereza?

- Essa aí é que nem o Lacerda
Sobe e desce a ladeira três vez
Mas o pé daqui ela num arreda
Olha que a danada fala té inglês

- Falá estrangero é fácil, ô Tonho
Falá brasileiro certinho que é o cão
Tereza, essa sempre foi meu sonho…
Falar em sonho, sabe da Conceição?

- Essa aí tá solta na bagacera
Largou pra trás o malvado do Zé
Sempre me dá bom dia na feira
Tá lá vendendo cocada na Sé

- Pois acho que faltou foi pressa!
Aquilo não é mulher pro Zé bejá
Ói, que eu gostava dela a beça
Tem mais aí do suco de cajá?

- Tem, mas acabou, e me diga
Por onde foi que cê andou?
Essa barriga deve ter lumbriga
Ou então esse prato afundou

- Me deixe comer em paz, vá
Eu num tenho novidade pra você
Quero saber é do meu vatapá
De minha terra, do nagô, do ilê aiyê

- Num venha de conversa não
E chega, cê já tá de bucho cheio
Me conte como é esse Brasilzão
Caba logo com esse meu anseio!

- Ô Tonho, num te iluda não
Que eu rodei essa pátria a pé
De barco, carro, e até avião
E ninguém me fez um acarajé

Nunca me receberam com trio
Nem vi nenhuma casa de noca
Num vi graça nem no mulherio
Cheguei a sentir dó das carioca

Elas acha que sabe requebrar a anca
Mas não, falta nelas um quebranto
As paulista, vixe! Muito branca!
E a peleja pra achar um pai de santo?

Cê vê, rancaram até minha coroa
Nenhum povo me chamou de rei
Chamei um de meu preto, numa boa
Levei foi um processo e me lasquei

Tem mesmo nada pra lhe contar
Que não tenha melhor na Bahia
Fiquei encabulado, decidi voltar
E acho qualquer baiano voltaria!

Não que seja uma terra perfeita
Dá malandro, tem vagabundo
Isso faz parte da nossa receita
O Brasil é a Bahia do mundo

Foto: Nego fugido - folguedo variante do Quilombo, mantido há pelo menos um século pelos moradores de Acupe, distrito de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano. Encenação que recria, anualmente, tentativa de fuga de escravo, que é caçado e amarrado, para depois comprar sua alforria.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Faltar


Acho que um dos momentos mais desesperadores da vida é aquele em que deparamos, de novo, com algo que não entendemos sob essa nossa "lógica" adquirida através de tudo que já vivemos e não entendemos e buscamos entender e, por vezes desistimos, por vezes escolhemos acreditar no mais plausível, e por vezes esquecemos. É aquela velha história da vida vir e mudar todas as perguntas. As vezes parece que a missão da minha vida é experimentar esses clichês. As vezes parece que não tem missão e nem vida, só experiencia. As vezes parece que eu to é ficando doida, me drogando demais ou de menos, ou que falta ou sobra algum nutriente. As vezes parece que é Deus quem faz isso tudo me encontrar, me sacudir e me dar um chute nas costas, desses que empurram pra frente ou entortam de vez a coluna. E tem vez que parece que é só estresse, ou falta de estresse. Assombrações existem de várias formas: perguntas, clichês, experiencias, drogas, abstinencias, loucuras, lipídios, solidões, vitaminas, açucares, memórias, esquecimentos, divindades, maldades, estresses, vazios, tédios, balanças, ócios, personalidades, vontades, desejos, dúvidas, dívidas, remédios, quadro torto na parede, janela aberta com chuva, resistência de chuveiro queimada, finais de mês, manhãs, sonos, horários, matérias, pessoas, promessas, vícios, enlatados, solúveis, plantas de plástico, madrugadas, cozinhas, mortes, poesias, músicas, dores, prazeres, chás, caquis, mãos, documentos, saudades, fotos, amores, indiferenças, batatas palhas, medos, frios, suores… Mas, acho que nada assombra mais do que o desconhecido. E aí, pensando um pouco (tendo o mesmo dejavu de sempre) fica pior quando você percebe – e você percebe muitas vezes na vida, e esquece – que não conhece nada.
Nem ninguém. Nem você. Nem seus fantasmas e nem seus caçadores.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Comer e Morar



A saudade é uma comemoração
Deveria ter um bolo e balões
Deveriam soltar fogos e rojões
Em uma verdadeira saudação

Comemorar é lembrar junto
E aí eu me faço companhia
E nunca vai faltar assunto
Pra saudar a antiga sintonia

Juntar é abraçar os pedaços
Mas sem precisar encaixar
Só criar coloridos mosaicos
No desenho que me agradar

Pedaços são partes viajantes
Daquele todo que espatifou
Viajam buscando seu antes
Como a foto que amarelou

Viajantes não são, estão
Não têm lugar nem aluguel
Basta boa perna e um tostão
A vida lhes dá tela e pincel

Estão todos os que mudam
E não emudecem sua essencia
Pra que eles nunca se iludam
De que na vida existe frequencia

Mudam todos os que vivem
E ao mudar nossa narrativa
Mesmo os parados se movem
Sob essa nova perspectiva

Viveram os que comemoraram
A velha saudade dos viajantes 
E os abraços que se mudaram
Tecem o valor desses instantes 

Aerodinâmica





Meu mundo é uma sala de espera
Dispenso a revista, eu tiro fotografia
Exploro todo canto com e sem melodia
A paciência é sempre minha primavera

E assim como tudo na vida
Eu vou te deixando pra depois
Não vou nem pensar em nós dois
Eu sempre fui meio esquecida

Agora não, deixa pra depois
Deixa essas outras te terem
Deixa seus poemas lerem
Não vou nem versar de nós dois

Deixa essas cidades te conhecerem
O mundo também merece te ver
Não precisa ser só meu esse prazer
Vamos viver as coisas que aparecerem

Vai, beija bocas, dá abraços
Dá a mão, faça música e ria
Faça rir, dá saudade e inebria
Segue os seus traçados passos

Eu me contento com o cheiro
Daqui eu te alcanço o braço
Mas a mão não acha espaço
Outras já chegaram primeiro

Não nasceu pra olhar paredes
Sua casa é um planeta inteiro
O palco, a rua, onibus, terreiro
Um só líquido para várias sedes

Derrama de si mesmo por aí
Que o mundo fica mais bonito
Cada dia é menos um conflito
Segura pra esse moço não cair

De você eu não quero nada
Já tenho minha garantia
E só isso já me sacia
E me deixa a alma acalmada

Não agora, não tá na hora
Nem tempo seu e nem meu
Ou já teve flor que floresceu
Antes da necessária demora?

Nós dois somos mais que dois nós
E dando volta pra lados diferentes
Os nós ficam mais resistentes
Pra ninguém desatar nosso após

Pois depois que dermos nossas voltas
Tomaremos um café aqui nesse lugar
Enquanto um espera o outro chegar
Pra contar com versar as nossas rotas

Nó na garganta, disso não abro mão
Aperta mais a cada dia de lonjura
E enquanto a alma vai ficando pura
A gente vai ali e já volta, ou não

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Batalha do Ser

Por Richard Bruno

A vida te da golpes que te fazem ver
Sua fragilidade e o despreparo pra viver
Um dia voce aprende a se defender
Mas você se desconhece, você vai sofrer

Pra vida não importa ganhar ou perder
Certo ou errado quem pensa é você
Sua cegueira é tanta em se autoconhecer
Que voce prefere até se esquecer
Que a vida é passageira e logo é você

Sua mente é só desejo
Seu corpo é uma prisão
Seu espirito está frio
Descontrole é o coração

Seu vicio é o outro
Voce não aguenta a solidão
Que te mostra você mesmo
E te tira a razão

Você corre sem direção
Ajoelhar e rezar
Beber e esquecer
É mais facil do que ousar
Saber sobre seu ser

Tragédia Amarela


Amor é amar ela
Amarela, amar ele
Amor é elo
Eloquente, Eloísa
Amor é quente
Quem te viu,
Quem te vê
E na tevê
Amor é cena
Uma morena
Um mármore
Mar de amor
Amor que morde
A morte também ama
Amar-te também, Marta
Amar teta, amém
E desamar é martelo
Que pega no dedo
É doce de marmelo
Que virou formigueiro
Que o diga Marcelo
Que amara Eloísa
Uma morena amarela
Que mudou o critério
E quis amar Marta
Quem te viu,
Quem te vê
Preferiu a mamata
E feriu com martelo
O peito de Marcelo
Que quase chega a morte
Por um desmazelo
De Eloísa amarela
Quem te viu,
Quem te vê
Cuidado Elô
Que todo elo rompe
Quando martelo bate
No dedo do anel
Preferiu a mamata
Ao peito de Marcelo
Eloquente, Eloísa
Sentirás uma brisa
Sugiro que a inspire
Encha de ar o peito
Que esse martelo fere
Colorindo de vermelho
O seu novo critério
Descanse nesse formigueiro
Lembre que largou Marcelo
Que nunca te desamou
Que sua vida desastrou
E seu corpo desalmou
Fique com a Marta
E com a morte
A morte também ama

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Atrasado

Com Gabriel Carelli

Paro há tempos, vejo o tempo
Tempo de sorrir, tempo de amar
Tempo, seja de ir ou vir
Tem hora que a hora nem parece tempo
E tem tempo que não quer me ver rir
Sorrir, sentir…
Há tempos que o tempo me entristece
Sentada, praticamente parada
Há tempos que o tempo emburrece
O tempo todo, meu tempo padece
E seja com álcool, seja com fumo
Eu sempre me aprumo, e nada acontece
E o tempo todo, a gente se esquece
Que o tempo da gente, a gente que tece
E o tecido da vida, se transforma, envelhece
E há quem diga até que rejuvenesce
Se você seguir direito o "modo de uso"
Mudando de hora, mudando de fuso
Viver no tempo que você quiser
E você, que fez o ontem
Nada pode dizer do amanhã
Falar de heróis, ou de filosofias vãs
Cada um ao seu tempo, o que te apetece
Dá até dó do tal tempo, até parece
Quando declaram que ele resolve tudo
O tempo dá um tempo, dá de ombros
Vira e desaparece
Ensina que o dono dos seus problemas
Não é o ponteiro do relógio
Que nada se resolve entre o bater das horas
Que nada se resolve nesse estágio
E a hora se torna eterna senhora
Se torna desculpa pros acomodados
Aconchego pros desanimados
Lição pros desesperados
Um chamado pros mais distantes
Uma saudade do velho amante
Hoje é tempo de ver o tempo
Num poema que se finda numa folha

Amuada


Te abraço e peço baixinho     
Pra Deus passar para mim     
Toda tristeza ou desalinho    
Que teja te deixando assim   

Preocupação num tem que ter
Nem pense que isso me corrói
Me dói mais te ver sofrer
Do que sofrer o que te dói

É normal que eu entristeça
Quando eu te vejo emudecer
E num me entra na cabeça
Porque isso, logo com você?

Você, que dá bom dia pro canarinho
Mesmo que chova e ele cante menos
Ainda que ele avoe pra longe do ninho
Você, que enche as árvores de nomes

E parece que morre um bucadinho
A cada galho que o moço poda
Errado é o fio que cruza o caminho
Energia elétrica que nos acomoda

Você, que me ensina que perdoar
Não é opção, e sim coração
E que a paz só irá perpetuar
Se nos amarmos acima do não

Você conhece tão bem o ser humano
Que parece que deixou de ser um
Te achar divina pode parecer insano
Não te cabe a nossa sujeira e dano

Não te cabe ganancia, nem furia
Quem dirá ódio ou indiferença
A você coube a eterna doçura
E na hora de durmir, a bença

Você se deixou pra trás, sozinha
Cuidou de todo mundo primeiro
Orou, vendeu fiado, arrumou cozinha
Deu abraço, não abriu o berreiro

E agora chega sempre amuada
Me beija a cabeça sem sorrir
Parece que não vê jeito em nada
Alivia a angústia ao dormir

Passa pra mim, Pai
Isso que rouba sorriso dela
Deixa pra ela a vida e a paz
Ela doa amor, faz voltar pra ela

Você é anjo que dispensou asa
E não grita pra pedir socorro
Já já vai ser nossa aquela casa
Com quintal, árvore, e um cachorro

Dom

Para Diego Gonçalves, que tem o dom de ser.

Olha, esse sinal tá errado
Ele fica vermelho pra sua arte
De repende pode tá quebrado
Se bem que ele também faz parte

E olha pra esse tapete, quem pintou?
Ele sim, que era pra ser vermelho
Mas, virou listra branca, cê notou?
Aliás, cê já se olhou no espelho?

A pintura que você fez no rosto
Tá escorrendo entre os dedos
De quem tenta tirar seu posto
E quer doutrinar seus medos

Palhaço é o menino que carrega
O coração na ponta do nariz
É arte pulsante que se esfrega
Na cara de quem não condiz

E fala “olha só o quanto você tá cego
Que eu preciso me pintar e colorir
Olha o tanto de coisa que eu carrego
Pra te intrigar até o sinal abrir”

Eu acho que cê tá nervoso demais
E eu espero que não passe, não
Enquanto suas drogas não forem legais
E o seu sentido for a contramão

Enquanto eles não acordarem
Pra te ver muito além da distração
Eles estão esperando contarem
Como é que flutua esse bastão

Não é difícil fazer coisa flutuar
Ajuda se tiver um pouco de fumaça
Mas quem já aprendeu a se equilibrar
É que enxerga a verdadeira graça

E uns dizem em tom de deboche
“É linha amarrada, ele ainda quer confete?”
Engraçado ouvir isso de um fantoche
Num tem linha também na marionete?

Um coração, nariz, sinal, olho
Acho que vermelho é sua cor
Não deixa sua missão de molho
Que até o invisível pode decompor

Cavaquêro

Para Edimar Zambroni, um feliz aniversário





Crendeuspai! Já é outro dia?!
Peraí, vou me explicar primeiro
É que o tempo dessa poesia
Insistiu em teimar com o ponteiro

E quando a gente pensa que não
Percebe que já passou mais um ano
Eu acho que esse seu violão
É mais gente que muito humano

Ô Pai, cuida desse seu menino
Que o Sinhô deu bondade pra ele
Dá força pra esse peregrino
Que o sol arde e queima a pele

Dá muita saúde pra esse moço
Que a estrada tá nem na metade
Dá sustância pra ele no almoço
Que sustente essa serenidade

Edimar, de areia e de onda
As vista nem dá conta de ver
É de rio, de lago e delonga
Vai versar até a noite ser

Acho que tá faltando um bemol
Vida num era pra ser falada
Me dá um lá sem dó, ou um sol
Vida tem mais é que ser cantada!

Rainha do Lar

Para a minha Rainha do Lar, dona Cris 

Você vira algodão quando me abraça
Seu olhar é Deus quando me olha
O cabelo de seda me desembaraça
Choro e fico seca, você chove e molha

Onde você pisa é endereço da paz
Quando você dorme parece ursinho
Revestido de inocencia que me traz
A vontade de nunca largar o ninho

Eu já nem acho que tens bondade
Acho que a bondade é que tem você
E a julgar pela sabedoria da idade
És criança que preferiu não crescer

De manhã passarinhos cantantes
Te entregam alegria pela janela
Em troca disso levam o diamante
Que é poder, logo cedo, ter com ela

Já deu nome pra árvores e flores
Que estão a te esperar ansiosas
“Bom dia Bia, bom dia Dolores”
Espinho desiste de dificultar rosas

Ensinou que o amor que temos
Não é posse, pois assim adoece
Nasce conosco para que doemos
Senão o peito murcha e apodrece

Impossível descrever de jeito justo
Você não cabe nesse simples versar
Quando acho que sei, você me dá susto
És um poema que nunca vou terminar

Desenhe Tua Família

Para Matheus Rodrigues, que me escuta até quando só me lê

Uma calma que parece infindável
Com simplicidade de expressão
Entendimento até do improvável
Em palavras, risos, gratidão

Anda bem mais distraído que eu
Mas presta muito mais atenção
Se perguntar que foi que sucedeu
Ele te conta com exatidão

Exatamente por ser diferente
É que acaba sem entender
Como pode essa gente descrente
Lhe dizer qual o certo proceder

Não quer divã, ai que teimosia
Já falei que não vai ter remédio
Ao menos não quis engenharia
Se livrou de um baita dum tédio

Tem naquele texto do Foulcaut
A verdade passa pela loucura
Acho que ele não se espantou
Decidiu escolher a ternura

De estudar o mal pela semente
Porque é que a gente silencia?
Qual é a culpa de quem sente?
Porque é que ela faz poesia?

Ele vai perguntando de um lado
E acaba enxergando do outro
Pode até parecer abismado
Mas está nada mais que envolto

E se for parar pra analisar
E separar o trigo do joio
Notará que a função de enxergar
Não foi dada puramente ao olho

Oro a Deus que sempre te oriente
Pra que deixe seu amor içado
E que nós andemos sempre rente
E esse parabéns tá atrasado!

Cerveja Sem Álcool




Esse mundo anda desfazendo tudo
Mas Deus já fez perfeito, qual é?
Ainda descafeinaram meu café
Aí logo de manhã eu já me iludo

“Tem o mesmo gosto, toma logo”
Não, moço, não me apresse não
Daqui a pouco me desentrigam o pão
Ou vão querer assar sem por no fogo

Tudo em nome da vida saudável
Café faz mal, integral invés de refinado
Meu corpo não acha nada agradável
E a cabeça custa a entender o recado

Tudo bem se o amargo for você
Contanto que sorria, seja refinado
Cuidado com o sódio desse patê
Mas tá legal se você for salgado

E muda toda hora, já percebeu?
Esse reporter vive um baita dilema
Uma hora trata o ovo por plebeu
Na outra semana diz pra tirar a gema

Dali sete dias proibe que frite
Só cozido e só uma vez na semana
Espero que um dia a galinha se irrite
Ao invés de ovo passe a botar grama

Porque, a gente chega à conclusão
Que só o verde faz bem à saúde
Mas, se for queimar, dá mó confusão
Também espero que isso um dia mude

Jogar agrotóxico tá liberado
Mas, você não pode plantar sua muda
Que a puliça te prende, drogado!
Anda, come essa uva graúda

Levanta cedo e vai se exercitar
Ao menos três vezes por semana
Beba muita água pra não desidratar
E domingo vá à missa de Sant´Ana

Quando for caminhar, desvie da fome
Ou ao menos olhe para o outro lado
Que esse mendigo vai andando e some
Seu corpinho vai continuar sarado

Aí fazem um programa bem legal
E agora basta você ligar a TV
Pra saber sobre “saúde mental”
Ah, aí já é demais, té mais vê!

Lar Fora de Casa

Para Lucas Tibiriçá e seu punhado de  braço e sobrancelha

Pronde será que a gente rema
Onde é que a gente foi parar?
Aliás, a razão do poema
É cria lá de Itajubá

Agora a culpa eu vou assumir
Vou desfazer já esse embaraço
Eu, com medo de você não vir
Acabei puxando pelo braço

Acho até que essa elasticidade
É pra favorecer o tal abraço
E talvez essa cumplicidade
É que enriquece o nosso laço

Peraí, eu quero falar também
O que é que eu tava falando?
Lembrei! Às onze passa o trem
E já tá a gente cantarolando

Mas voltando ao assunto primeiro
E pensar que cê veio de longe
Fica sempre meio corriqueiro
Mas será que cê tá indo aonde?

Ih, eu voltei no assunto errado
E você nem pra me avisar
Aliás, você fala engraçado
E tem humanidade no olhar

Esse olhar que sozinho sustenta
Suas histórias, da vó e da tia
E essa alegria que te orienta
A sorrir mesmo na agonia

E seja no banho de mangueira
Ou cantando aquela identidade
A gente segue rindo por besteira
E essenciando essa amizade

Eu já sei, não tem mais conserto
Fincou bandeira e veio pra ficar
Vai ficar sempre dentro do peito
Mesmo que o pé pise em Itajubá

Te Oriente, Adão!


“Esse bicho não deu certo”
Pensou Deus, o Poderoso
Bizoiando Jesus, lá no deserto
“Homem, ô bicho preguiçoso!”

E se arrependeu o nosso Senhor
Por vir a terra na pele humana
“Ô, mande aí um ventilador!
Essa orelha é grande mas num abana!”

Papai do céu, aprisionado em Jesus
Percebeu, suando com aquele calor
O quão mais perfeito são os urubus
Que comem podre e num são reclamador!

E então Deus olhou para a barata
Bicho fedido, causador de ogeriza
Pode rancar a cabeça que num mata
Vai ver é por isso que ela aterroriza

Mas, oh só pro animal racional
Nem andar a pé num anda mais
Anda de carrão, na maior moral
Acelera pra frente mas fica pra trás

Agora, vê só a danada da cobra
Levou a culpa todinha do pecado
Tem pecador aí cheio de pé, até sobra
Mas precisa de motor, e ar condicionado

E o peixe, cê já reparou no peixe?
Leva água salgada no zói todo dia
Ou então ele vai servir é de enfeite
Dentro dum aquário na sala de Maria

E cê já viu peixe reclamar da vida?
No máximo ele solta uma bolhinha
Homem cresce e acha a vida sufrida
Achou que ia ser só mamá e papinha

O Grandioso Deus chegou à conclusão
“Alguma coisa deu errado nessa receita
Usei o melhor pó da terra em Adão
E a coisa cismou em não sair direita!”

- Ô Deus, já lhe falei pra pará com o pó
Que isso desanda a receita e a cabeça
Escute um conselho pra desdá esse nó
Sou joaninha, mas me chamo Vanessa

É bem mesmo como o Sô disse
O homi é um bicho fora do padrão
Maravilha é só no mundo de Alice
Aqui a coisa tá na base é do rojão

Eles entendero tudo errado que Sô falô
Eles teima em matar bicho pra cumê
Aí falta comida pra um outro predadô
E só sobra é perna de surfista pra mordê

Eles num entendero foi nada
Quando Sô falou lá sobre a gente se amar
Eles entendero armar, sabe, essas granada?
E agora acha que tudo é motivo pra atirá

Ó Deus, Sô me desculpa o atrivimento
Longe de mim falar mal do seus filho
Mas, isso vem desda época do Seu advento
Foi bem lá que esse trem saiu do trilho

Eu mais a bicharada tivemo uma idéia
Que inclusive foi na base da democracia
E a gente fez assim tipo uma assembléia
Com todos bicho que a gente conhecia

O que a gente quer é melhorá os homi
Num deixá eles morrer aqui sozinho
Hoje eles ligam nem pro que comem
E cedo cedo já querem largá o ninho

Então aqui, que só tem bicho camarada
Cada um vai doá de si uma parte
Pra gente tentá dá aí uma melhorada
Vai dá até pra chamá de obra de arte

O primeiro a doá foi o elefante
Que além do coração, doou a memória
Pro homem se alembrá que refrigerante
Serve só pra aumentá a massa corpória

O mosquito doou a insistência
Pro homem pará de desistir da vida
Mas aproveitá sua malemolência
E não se entregá pro inseticida

O urso doou seu abraço felpudo
Pra ser usado nas tal de guerra
Porque diz que diante desse escudo
Até violência bem braba se encerra

O gatinho manhoso doou a higiêne
Pra que o homem lave sua alma
É bom até esfregá com querosene
Espera que o cheiro já sai, calma!

O cachorro latiu, doou a recepção
Pra que o homi abane rabinho e pule
Quando avistar na rua um irmão
Ainda que a tal coleira o regule

E foi uma doação danada, vixe!
Todo bicho queria doá um troço
E num tinha ninguém ali triste
No final rezamo até um Pai Nosso

E num galope, saiu la do mei do mato
Curria feito o tinhoso quando foge Docê
Tava mesmo faltando o lagarto
Pra ajudá o homem a se refazê

Ele chegou foi bem abafado
Mas logo explicou a razão
Disse que doaria seu rabo
Pra pôr no lugá do coração

Calma, eu também custei pra entendê
É que parece até uma quimera
Esse rabo pode até um pedaço perdê
Que como mágica ele se regenera

Ô Sô Deus, eu sei que falamo demais
Mas nós aqui tamo só tentando ajudá
Sei que eles são sapiens, racionais, mas
Maior sapiencia é ter paciência, e se amá

Ponha a Culpa no Sistema


“É uma vergonha esse quarto
Nem parece filha minha!”
Mas mãe, cê tava lá na hora do parto
Não sei o que cê tanto me apurrinha

Se o guarda-roupa explodir
O máximo que vai acontecer
É o chão do quarto colorir
E desse mal eu num hei de morrer

Pra que é que eu vou fazer a cama
Se logo mais a noite, vou ter de desfazer?
Já não basta as vezes que a gente ama
Sabendo que mais tarde vai aborrecer?

As definições de lugares das coisas
Não são agradáveis à todo mundo
Fosse o contrário, nossas mariposas
Nunca sairiam do casulo moribundo

Tem espaço de sobra nessa Terra
Mas a gente não acerta em dividir
É por isso que a porta emperra
Já te falei pra não por tapete aí

A toalha molhada na cama
A roupa toda samiada no chão
Não sei que tanto você reclama
Se isso não fere nem meu irmão

Ele sim talvez reclamaria
Dessas quatro paredes caóticas
Ele abstrai e entende da entropia
Das minhas moradas apoteóticas

A bagunça tá no olho estranho
Para quem é de casa, tá tudo no lugar
Você acha que eu me emaranho
E diz que eu preciso me organizar

Mãe, entenda uma coisa, eu te peço
A bandeira da nossa pátria definiu
Precisa ter ordem pra ter progresso
Então, se for assim, puta que pariu…

Se organizam enquanto nos explodem
E dão até prêmio pra quem perdoa
Como é que eu vou achar que ordem
Vai me servir como coisa boa?

Larga mão de ser pentelha
A vida é mesmo desarrumada
Para de falar na minha orelha
Dá cá um bejo, ô sua enjoada!

Foco Na Fofoca




Foco na Fofoca

Mas cadê o pai dessa menina?
Isso lá é coisa de moça direita?
Cadê o pai dessa menina?
Vou ficar aqui só na espreita

Sai de casa esticando um galope
Passa na rua toda assanhada
Aposto que procura quem tope
Bancar seus desejos, abusada!

Seus versos lembram sua anca
Larga e volumosa, de parideira
Em cada linha que antes era branca
Tem parto de frase, sem eira nem beira

E ela rebola essa versaiada
Na cara dum monte de escritor
Que ficam até cas calça arriada
Erguem o lápis pra falar de amor

Cadê o pai dessa menina, Maria?
Repara como ela mostra os peito
Dentro do que chama de poesia
E sai amostrando pros moço direito

Menina, dizem até que ela agora
Faz isso com fêmea e com macho!
Diz que pra isso num tem sexo nem hora
E só falando poesia que ela sossega o facho

Mas olha, é mesmo muita rebeldia
Sair de casa e fazer essa besteira
É claro que ela tá de poetaria!
Na rua chamam até de poeteira!

Passa as noites tocando poetas
Parece até um tipo de sina
Vive com boca e pernas abertas
E cadê o pai dessa menina?

E já tá prenha, num te falei Benedito?
Diz que ta parindo poema todo dia
E os menino até que são bonito
Pena morarem num antro de poetaria

Tadinho, eles nem tem culpa
Mas são mesmo uns filhos da... poeta!