terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Te Oriente, Adão!


“Esse bicho não deu certo”
Pensou Deus, o Poderoso
Bizoiando Jesus, lá no deserto
“Homem, ô bicho preguiçoso!”

E se arrependeu o nosso Senhor
Por vir a terra na pele humana
“Ô, mande aí um ventilador!
Essa orelha é grande mas num abana!”

Papai do céu, aprisionado em Jesus
Percebeu, suando com aquele calor
O quão mais perfeito são os urubus
Que comem podre e num são reclamador!

E então Deus olhou para a barata
Bicho fedido, causador de ogeriza
Pode rancar a cabeça que num mata
Vai ver é por isso que ela aterroriza

Mas, oh só pro animal racional
Nem andar a pé num anda mais
Anda de carrão, na maior moral
Acelera pra frente mas fica pra trás

Agora, vê só a danada da cobra
Levou a culpa todinha do pecado
Tem pecador aí cheio de pé, até sobra
Mas precisa de motor, e ar condicionado

E o peixe, cê já reparou no peixe?
Leva água salgada no zói todo dia
Ou então ele vai servir é de enfeite
Dentro dum aquário na sala de Maria

E cê já viu peixe reclamar da vida?
No máximo ele solta uma bolhinha
Homem cresce e acha a vida sufrida
Achou que ia ser só mamá e papinha

O Grandioso Deus chegou à conclusão
“Alguma coisa deu errado nessa receita
Usei o melhor pó da terra em Adão
E a coisa cismou em não sair direita!”

- Ô Deus, já lhe falei pra pará com o pó
Que isso desanda a receita e a cabeça
Escute um conselho pra desdá esse nó
Sou joaninha, mas me chamo Vanessa

É bem mesmo como o Sô disse
O homi é um bicho fora do padrão
Maravilha é só no mundo de Alice
Aqui a coisa tá na base é do rojão

Eles entendero tudo errado que Sô falô
Eles teima em matar bicho pra cumê
Aí falta comida pra um outro predadô
E só sobra é perna de surfista pra mordê

Eles num entendero foi nada
Quando Sô falou lá sobre a gente se amar
Eles entendero armar, sabe, essas granada?
E agora acha que tudo é motivo pra atirá

Ó Deus, Sô me desculpa o atrivimento
Longe de mim falar mal do seus filho
Mas, isso vem desda época do Seu advento
Foi bem lá que esse trem saiu do trilho

Eu mais a bicharada tivemo uma idéia
Que inclusive foi na base da democracia
E a gente fez assim tipo uma assembléia
Com todos bicho que a gente conhecia

O que a gente quer é melhorá os homi
Num deixá eles morrer aqui sozinho
Hoje eles ligam nem pro que comem
E cedo cedo já querem largá o ninho

Então aqui, que só tem bicho camarada
Cada um vai doá de si uma parte
Pra gente tentá dá aí uma melhorada
Vai dá até pra chamá de obra de arte

O primeiro a doá foi o elefante
Que além do coração, doou a memória
Pro homem se alembrá que refrigerante
Serve só pra aumentá a massa corpória

O mosquito doou a insistência
Pro homem pará de desistir da vida
Mas aproveitá sua malemolência
E não se entregá pro inseticida

O urso doou seu abraço felpudo
Pra ser usado nas tal de guerra
Porque diz que diante desse escudo
Até violência bem braba se encerra

O gatinho manhoso doou a higiêne
Pra que o homem lave sua alma
É bom até esfregá com querosene
Espera que o cheiro já sai, calma!

O cachorro latiu, doou a recepção
Pra que o homi abane rabinho e pule
Quando avistar na rua um irmão
Ainda que a tal coleira o regule

E foi uma doação danada, vixe!
Todo bicho queria doá um troço
E num tinha ninguém ali triste
No final rezamo até um Pai Nosso

E num galope, saiu la do mei do mato
Curria feito o tinhoso quando foge Docê
Tava mesmo faltando o lagarto
Pra ajudá o homem a se refazê

Ele chegou foi bem abafado
Mas logo explicou a razão
Disse que doaria seu rabo
Pra pôr no lugá do coração

Calma, eu também custei pra entendê
É que parece até uma quimera
Esse rabo pode até um pedaço perdê
Que como mágica ele se regenera

Ô Sô Deus, eu sei que falamo demais
Mas nós aqui tamo só tentando ajudá
Sei que eles são sapiens, racionais, mas
Maior sapiencia é ter paciência, e se amá

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