sábado, 21 de janeiro de 2012

Acaso




É em vão
Tudo que eu faço é em vão
Simplesmente porque não existe
Ainda que seja real

E ainda que seja existente
Simplesmente não é real
E realmente não é simples
Porque nem o simples existe
E em consequencia disso
Não existe também o seu contrário

E o complexo não é real
E nem existente
E aí tudo é em vão
Porque todo meu movimento
É entre um lugar e outro
É onde a coisa não é
E nem deixa de ser

É no vão entre o sentido
E seu contrário
Porque a mim não cabe estar
Indo ou voltando
Caindo ou levantando
Blasfemando ou glorificando
Porque a minha única certeza
É aqui

Não existe outro momento ou memória
Seja na projeção, na fé, desejo ou ambição
Em que eu possa confirmar minha vivência
Pois só me tateio no presente do vão
E a minha humanidade me limita
A ter certeza somente da minha carne
Que perece a cada dia, mas é quente

E reflete no espelho
E é a essa recompensa
Medíocre e vergonhosa
Que me sujeito todos os dias
Nos vãos de lugares opostos
Irreais e inexistentes
A fantasiar tudo que me rodeia
Como se eu fosse algo além de olhos
E cabelos
E como se eu não fosse

Nem a certeza me garante existência
Nem a realidade me certifica qualquer
Garantia
Assim como o besouro
Aerodinamica inexistente
Ele tem asas mas
Não tem condições naturais de voar
Mas voa

E tudo que está entre sua insética condição natural;
Sua existencia com ausencia de destinação ao vôo;
E a falsa existencia de suas asas
É em vão e está no vão, entre o ar e o solo
E o besouro ainda acha que voa

Não percebeu ainda que simplesmente
Locomove
E mesmo observando águias que cortam o céu
E ficam pequenas
Dada distancia entre a visão do besouro
E o vôo da águia
Distancia essa que nada mais é do que
Em vão
E está no vão, e é irreal e inexistente

Também é o seu contrário, bem como não é
Mesmo tendo o besouro observado a águia
Ele ainda acha que voa
Inda que a águia lhe diga
“Como fosse compreensível possuir o vôo
E não ser capaz de ter, nas asas, força
Que te levante ao cair
De costas”

Por mais que a águia lhe diga
Sem linguagem que não sua própria condição
Sem precisar falar, mostrar ou desenhar
Sem sequer saber que faz parte do diálogo
Apenas fazendo o besouro questionar-se
Inda que a águia lhe ponha duvida
O besouro ainda vê suas asas

Sente suas asas, as escuta bater
Se ergue do chão
E se acomoda no tato de sua carne
Para acreditar no que satisfaz sua vaidade
Na falsidade real, existente e contrária
Julgando-se privilegiado
E se apoiando na fé
“Não mais cairei de costas
Se aperfeiçoar meu vôo”

Ele não voa, e por isso cai
Experimentasse aperfeiçoar seus
Passos
Apoiados no vão
Entre mover-se e o cessar de mover-se
Não cairia de costas
E, caso caísse, acreditaria estar simplesmente
Deitado

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