Pro ce ssa
'Pra vc, são salvador'
Pra vc são poesias!
Pra outros, profecia!
Pra gente pro te ção
Pro santo que tecia
Pro santo que ora
Pedindo a outro santo que o mau vá se embora
E que volte a calmaria, que o silencio é mais queto depois da gritaria
E a luz entra mais bela quando passa pelo vidro da igreja e pelo altar
E o moço parece tela já que os olhos da menina são pincéis a desenhar
Quando o peito sangra dentro, quando o fogo queima lento o desejo de voar
É que eu lembro da minha terra, e mando a sereia entregar o recado, que um dia inda hei de voltar
Pelas pernas, pelo ar ou mesmo a nado, selo o sonho cavalgado por quem ama o seu lar
Mas nasceu sem endereço, e passou a ter apreço, fez das ruas corredores e nos quartos fez amores,
Não tem cerca nessa casa, e na seca a agua é rasa
Como é rasa sua vida se não for regada a fé, é rasa, seca e moída, feito o negro grão de café
Como é em vão matar a rosa pra provar qualquer amor, não confio nem em político
Como é rasa sua vida se não for regada a fé, é rasa, seca e moída, feito o negro grão de café
Como é em vão matar a rosa pra provar qualquer amor, não confio nem em político
E nem em quem mata flor
Não quero ver a flor morta ao lado da procissão, quero a vida aqui devolta, nessa areia do sertão
Que em muito se assimila com meu velho coração, que vive a clamar por agua
Não quero ver a flor morta ao lado da procissão, quero a vida aqui devolta, nessa areia do sertão
Que em muito se assimila com meu velho coração, que vive a clamar por agua
E quem acaba molhada é a minha face seca e rachada
De tanto sonhar com o chão, acordo e morro todo dia, esperando sua leveza
De tanto sonhar com o chão, acordo e morro todo dia, esperando sua leveza
Esperando serventia da água fazer represa
Mas só vejo represália, e cada dia morro um bucado, no pescoço levo uma navalha
Mas só vejo represália, e cada dia morro um bucado, no pescoço levo uma navalha
E no bolso não tem um trocado
No pé tenho pó e barro, na mão tenho ferpa e calo, de tanto levar facada passei a andar sem sorte
No pé tenho pó e barro, na mão tenho ferpa e calo, de tanto levar facada passei a andar sem sorte
Sem direção, sem norte
Faz tempo que perdi a botina, ganhei calo e machucado, e não me calo se minha retina
Faz tempo que perdi a botina, ganhei calo e machucado, e não me calo se minha retina
Não se convencer que eu já fui escutado
Se a retina acredita a rotina se fatiga e sei que anida há quem diga que não sou pobre coitado
E tudo que eu tenho na barriga, é um pão bem mal assado, que pelo diabo foi amassado
Se a retina acredita a rotina se fatiga e sei que anida há quem diga que não sou pobre coitado
E tudo que eu tenho na barriga, é um pão bem mal assado, que pelo diabo foi amassado
Mas que já me alegra as lumbriga
E mesmo com gosto de pó, ao menos engana a fatiga que o tempo me deu pra levar
E de repente ouço um batuque e sinto o peito se rasgar, é uma mágica sem truque
E mesmo com gosto de pó, ao menos engana a fatiga que o tempo me deu pra levar
E de repente ouço um batuque e sinto o peito se rasgar, é uma mágica sem truque
Minha Bahia a me esperar
Onde o homem é feito de sangue, de aroma e de orixá, onde o mundo é mais profundo
Onde o homem é feito de sangue, de aroma e de orixá, onde o mundo é mais profundo
E o oceano é nosso lar
E a gente mora na areia e dá até pra namorar, toda noite é lua cheia
E a gente mora na areia e dá até pra namorar, toda noite é lua cheia
E toda onda vem quebrar
É quando o mar me chama 'filho' e a palmeira me deixa descansar
É quando o mar me chama 'filho' e a palmeira me deixa descansar
Nessa hora penso e choro dizendo "que bom que voltei pra cá".
Foto: Adenor Gondim
Foto: Adenor Gondim
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