terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Amaria



Era uma vez…
Não! Vou contar a verdade procês
É que eu bem me alembro muito mais de uma
Duas, três.. Quatro! Quatro vêis!
Era quatro vêis, uma menina muito da sabida
Ela morava assim muito bem escondida
Um caminho onde passava boi, passava boiada e tinha descida
Se trata da neta do seu Joca mais a dona Lina
É a menina Maria, cabelo bem grande, cintura bem fina
Caminha elegante, num nasceu pra lidar com criolina
Mas ocorreu que um tal de azar pegou Maria pela esquina
“Desça desse salto, menina, e ponha-se no seu lugar”
Isso foi o que dona Vida mandou lhe falar
Depois de ficar sabendo essa história que eu to a lhe contar

Da primeira vez que foi procurada pelo cumpadi Amor
Maria abriu as portas de casa como quem recebe o próprio Redentor
Ai, o Amor ficou danado de feliz, mas tava um baita dum calor
E ocorreu de aparecer um moço oferecendo venda de ventilador
O Amor se apressou pro lado de Maria e com ela abriu a porta juntinho
E quando surgiu a figura daquele vendedor magro e de sol torradinho
Maria deu de costas e preferiu o calor a deixar entrar o coitadinho
Diz que esse moço andou ainda algumas estação bem de mansinho
E arrumou uma moça que sentiu por ele paixão em desalinho

Depois da feira de São João, Maria viu o Amor escalando sua janela
Jogou logo três lençol amarrado e puxou o amor pra ela
Nessa hora se ouviu uma bela serenata, adentrando a viela
Até a mãe de Maria correu pra ver, largou pra trás as panela
E acompanhado pelo violão faceiro, tava lá o menino Bernardo
Rapaz trabalhador, filho de sapateiro, e pra lá de bem educado
“Filho de sapateiro só dá certo com centopéia”, Maria deu o recado
E no caminho de volta pra casa, Bernardo viu seu violão se apaixonar
Pela flauta da filha da Terezinha que soprava pelo ar
Dizem que tiveram afinação até pra dizer “sim” no altar

Um caso pra lá de curioso aconteceu da terceira vez
E o Amor, que já tava cansado, tornou a ter esperança outra vez
Maria colhia flores pra por no centro de mesa com toalha xadrez
E o Amor, nada bobo, se ajuntou ao néctar e foi respirado
E depois de uns passos, bastou Maria olhar pro lado
E ver um rapagão bonito e de dente branco a mostra, todo confiado
Maria ficou um tanto interessada, se adiantou a fazer um perguntado
“Ô moço, nunca te vi por aqui não. Qual é o ofício de seu pai?”
E ouviu resposta boa, “Meu pai é dono de negócio! E você, como vai?”
Vixe, que Maria sentiu até a necessidade de chegar perto e ver a cara
E facilitar a prosa com o bom partido que Deus enfim enviara
“Obrigada meu Pai! Valeu mesmo a pena ter esperado!”
O rapaz tinha o riso leve e falava um bucado engraçado
E notou logo logo o interesse de Maria em avançar pro seu lado
Decidiu que era melhor esclarecer logo o mal passado
E Maria desfaleceu ao escutar “É que eu tenho namorado”

Esse da quarta vez não era vendedor, filho de sapateiro ou viado
E o Amor tava já fazendo hora extra no caso de Maria
Voltou a aparecer pra ela, e numa noite dessas bem fria
Ele se pôs em cima de seu cobertor pra lhe passar caloria
E acontece que passava pela cidade nessa noite esquisita
Um circo com mágico, mulher barbada, palhaço e trapezista
Maria achou curioso, até mesmo a friagem se fez bem quista
E ela foi pra rua ver o que sucedia com tais viajantes
“Como é que eles arrumam de ser feliz sem coração amante?”

Foi ter com o mágico, que tirou do bolso um barbante
E foi mostrar a ela como fazia cosquinha no elefante
Respondendo a moça em tom calmo e constante
“Até mesmo o elefante sorri comigo se eu mostrar o quanto lhe tenho apreço”
Maria não agradou da resposta, “sei que argumento melhor eu mereço”
E foi ter com a mulher barbada, que tinha pêlo na cara desde o tempo de berço
“Se tenho pêlo na cara ou não tenho, pouca diferença isso faz
Conheço muita gente de cara lisinha que nunca teve paz
Por achar feio ter pêlo no rosto e aceitar ter nó na garganta”
Maria até achou filosófico, mas tava pensando em voltar pra sua manta
O frio apertava e no seu caminho passava o palhaço
“Ô Seu Palhaço, que tanto cê quer fazer essa gente rir com seu cansaço?”
E a resposta não agradou Maria, talvez por lhe pegar de jeito no laço
“Justamente, minha fia, porque não quero me cansar sem fazer alegria”

E o trapezista, que escutava o papo lá de cima pela corda, pendurado
Achou conveniente meter o bedelho e informar o seu achado
“Moça que procura resposta pra sua própria amargura
Tentando deixar amarga até mesmo a doçura
Nunca que cê vai entender de amor de verdade
Ele não liga pra bufunfa, dente branco, vaidade
E a vida chega a cansar de tanto lhe mostrar
Que o amor não nasceu só pra casar
E nem é por luxo que se vai ao altar
Volte pra sua casa e vá sozinha se deitar
E te acostume a sentir o pé congelar”

Maria nunca mais recebeu visita inesperada
Já que o Amor seguiu sua estrada
E a moça ficou toda deselegante
E sofre até hoje a todo instante
Por não ter convencido o rapaz afeminado
A provar da sua receita de melado
De certo que ficaria apaixonado
E Maria num aprendeu foi nada
E continua a ser moça descasada
É mal que não tem diacho de remédio e nem chá
E aquilo que não tem remédio, como diz o outro
É porque remediado está

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