domingo, 1 de janeiro de 2012
Artifício
Primeiro dia do ano
Roupa branca acorda encardida
E a gente já vai fazendo plano
Pra ao menos garantir a bebida
E a bebida que nos cabe
É aquela que inverte o processo
A breja que a gente abre
Esvazia ao nos encher de acesso
Mas nem garrafa nem fumo
Se atrevem a ser protagonistas
Essa embriaguez é o resumo
Na contra-capa de nossas vistas
Bebemos do sumo do poema
Sabemos que é um ser vivo
Intrínseco de nosso ecossistema
De nível alucinógeno abusivo
É essa a nossa reabilitação
Por mais contraditório que pareça
E cada gole rimado ou não
Desintoxicamos corpo e cabeça
Não queremos a abstinência
Desce logo uma caixa duma vez
E na garganta, aquela ardência
É a voz querendo sair, talvez
Trezentos e sessenta e cinco dias
Até que o pano, de novo, se encarda
E a favorita de nossas rebeldias
É espirrar nele ketchup e mostarda
Que já que é pra sujar e manchar
Então, que seja colorido e tenha gosto
Na rua eles costumam nos apontar
Sem mesmo ter nos beijado o rosto
Peço ao Pai que paciência dai-me
Com o sóbrio e seu ancestral
E agora eu me embebedo on line
Ah, se o mundo não fosse um sarau...
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