sábado, 14 de janeiro de 2012

Sadismo



A vida é cheia de presentes
Eles acontecem o tempo todo
Sobretudo entre as horas ausentes
Umidecidas, coloridas de lodo

Acreditar que ontem já passou
É renegar o próprio conexo
Esquecer que quando tropeçou
Um joelho herdou o reflexo

Logo, tudo virou presença
O vento que aos póros empoeira
Ou trouxe vírus de doença
Dando intimidade à cabeceira

Fosse passado, logo esqueceria
O fio da memória, com nós
É anfitrião da íntima romaria
Onde peregrinamos a sós

E depois do agora
Vem o para sempre
O presente da hora
É minuto crescente

O agora é onda, quebra em nós
Não passa disso, e sofre a areia
Nós, um nó, tão desatado algoz
Que com um laço se assemelha

O tempo virou lobo, talvez
Na singela pele de veraneio
Ganhou direção e flacidez
Como relógio fosse espelho

Presente embrulhado, com fita
Que se dispersa entre mil dejavus
Em carniças vivas ele habita
Inda que nos cerque como urubus





Nenhum comentário:

Postar um comentário